![Marcos Guimarães](https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/232E/production/_110460090_marcos_sydney.jpg)
Na cidade mais populosa da Austrália, o brasileiro Marcos Guimarães, de 32 anos, passou uma semana inteira sem conseguir enxergar o céu. O motivo: a fumaça gerada pelas queimadas que atingem o país.
“Fiquei uma semana sem ver o céu. Dava sensação de claustrofobia, por não ver o mar, não ver o céu. Você se sente confinado.”
O brasiliense, que vive há mais de dois anos em Sydney, conta que agora precisa lidar com um novo fator na rotina: é a quantidade de fumaça que determina se as pessoas vão conseguir sair de casa — com ou sem máscara — ou se vão cancelar os compromissos.
“De noite já dá para ter uma ideia. Agora, por exemplo, estou conseguindo ver a lua, mas com fumaça. A gente começa a ver que amanhã não vai ser bom. Eu acordo e a primeira coisa que vejo são as notícias do dia para ver se tá ok sair ou não.”
Seca e fogo
A Austrália está vivendo uma de suas piores temporadas de incêndios florestais, alimentados por temperaturas recorde e meses de seca extrema. As queimadas no país já levaram pessoas a evacuarem suas casas e, segundo trabalhadores de emergência que combatem as chamas, a situação pode piorar.
Sydney é a capital de New South Wales, Estado em que o governo declarou situação de emergência devido aos diversos focos de incêndio. Embora não haja queimadas na cidade de Sydney, áreas próximas estão entre as mais afetadas.
![incêndios na Austrália](https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/EDA7/production/_110393806_mediaitem110391355.jpg)
Para quem vive em Sydney, Guimarães lembra que o pior período até agora foi no início do mês de dezembro, com incêndios na região das Blue Mountains (Montanhas Azuis), famosas pelo tom azul quando vistas à distância.
“Eu me senti num filme pós-apocalíptico. Não conseguia ver nada além de 100 metros, e todo mundo de máscara. Dá medo do que está acontecendo”, disse em entrevista por telefone à BBC News Brasil.
No âmbito profissional, também sentiu impacto. Como representante comercial de uma startup brasileira que vende polpas de frutas para cafés e restaurantes na Austrália, viu as vendas diminuírem. “Você não vai sair de casa para tomar açaí se não está conseguindo respirar.”
Embora haja dias em que a vida parece voltar ao normal — como nesta sexta-feira (10), quando o dia amanheceu ensolarado e Guimarães chegou até a ir à praia —, o alastramento dos incêndios gera apreensão.
“Eu sinto medo. Parece que não vai acabar nunca, isso tem se prolongado. A sensação é que não há controle dos incêndios. Não vou sair correndo, mas penso: se chegar aqui, tem como evacuar? Isso me dá medo, mas ainda não me faz correr.”
![incêndios na Austrália](https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/13BC7/production/_110393808_mediaitem110393807.jpg)
Morte e destruição
O total de área queimada na Austrália desde o início da temporada de incêndios, em junho de 2019, foi de 10,7 milhões de hectares até esta quarta-feira (8), de acordo com o jornal The Guardian, que está compilando dados comunicados por todos os Estados australianos.
Os incêndios estão acontecendo em regiões das costas leste e sul, que é onde vive a maioria das pessoas no país. Desde setembro do ano passado, os incêndios deixaram um saldo de ao menos 24 mortos e dezenas de desaparecidos.
A Austrália sempre teve incêndios florestais, mas no ano passado e neste estão piores que o normal.
O consenso científico é que os níveis crescentes de CO2 estão esquentando o planeta. Faz cada vez mais calor na Austrália nas últimas décadas e a previsão é de que isso continue se agravando.
Embora os incêndios façam parte do ciclo climático australiano, especialistas advertiram durante muito tempo que esse clima mais quente e seco iria contribuir para que os incêndios ficassem cada vez mais frequentes e intensos.
Os padrões climáticos mais extremos e as temperaturas mais altas aumentam o risco dos incêndios florestais e fazem com que se espalhem mais rapidamente e por uma área maior.
Além dos efeitos para os seres humanos, as chamas estão sendo devastadoras para a vida silvestre das regiões afetadas. Um estudo acadêmico estima que 480 milhões de animais morreram só em New South Wales.
Fonte: BBC