Uma enorme revoada de pássaros migrando não é nada incomum — bandos podem voar milhares de quilômetros sem serem detectados.
Mas, em um evento raro na segunda-feira (17/02), o radar do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos registrou a movimentação de pássaros migrando da América do Sul sobre a Flórida.
As condições atmosféricas favoreceram para que os sistemas detectassem os pássaros, que levaram horas para sobrevoar a estação de Key West.
O grupo ocupou um raio de pelo menos 145 km, segundo meteorologistas.
Em 2017, um enxame de borboletas migratórias do tipo Vanessa foi detectado por um radar sobre o Colorado, mas a detecção desses fenômenos por radares é algo raro.
Um GIF produzido pelo Serviço Meteorológico mostra as aves migratórias em verde e amarelo e a chuva representada em azul.
Mais de 100 espécies
Todos os anos, milhões de pássaros fazem viagens árduas de milhares de quilômetros para migrar de acordo com as estações do ano para procriar e procurar comida.
Nas Américas, os pássaros voam para o norte da América do Sul e do Caribe para os EUA, começando nos primeiros meses do ano.
Uma animação produzida pela Universidade de Cornwell mostra 118 espécies migratórias nas Américas. Algumas começam suas viagens rumo ao norte em fevereiro, mas o maior movimento ocorre entre março e abril.
Um dos pássaros que sobrevoam a Flórida depois de passar o inverno no Caribe e na América Central é a pequena parula do norte, com uma envergadura de apenas 16 a 18 centímetros.
O pilrito-peitoral também sobrevoa a Flórida, fazendo uma viagem de ida e volta de quase 30 mil quilômetros. Ele faz ninho no Alasca e no norte do Canadá, antes de voar para passar o inverno na América do Sul.
As razões exatas de como e por que os pássaros optam por migrar em um determinado momento não são totalmente compreendidas.
“Alguns pássaros podem estar passeando no México ou em Cuba, esperando os ventos de cauda pegá-los”, disse Gina Kent, cientista de conservação do Instituto de Pesquisa e Conservação de Aves ao jornal Tampa Bay.
“O vento permite que mais pássaros, com muitos que poderiam não estar prontos (para encarar a viagem) conseguindo aproveitar o impulso.”
O grupo que passou por Key West saiu de Cuba no dia anterior e chegou à Flórida pouco antes do nascer do sol na segunda-feira, disse Kate Lenninger, do Serviço Meteorológico.
Mas só foi possível registrar a presença dos pássaros graças às condições climáticas específicas na Flórida.
“Havia uma espécie de camada estável de ar acima de nós que estava desviando o raio do radar para mais perto da superfície”, acrescentou Lenninger. “Então, conseguimos registrar mais objetos em baixas altitudes.”
Os radares meteorológicos usam pulsos eletromagnéticos para medir a localização e a intensidade das chuvas.
O radar mede o tempo necessário para que esses pulsos retornem de um objeto. Esse tempo, então, é usado para calcular a localização do fenômeno detectado, explicou o Serviço Meteorológico do Reino Unido.
“Há muitos anos sabemos que outros objetos (além da chuva) também podem gerar um retorno, como bandos de pássaros.”
As populações de aves nos EUA e no Canadá estão em risco, com o número diminuindo em três bilhões, ou 29%, nos últimos 50 anos, segundo dois estudos.
As mudanças climáticas também podem colocar em risco as aves migratórias.
As águias douradas podem não conseguir mudar o período de sua migração anual para coincidir com a chegada da mudança da primavera.
No Reino Unido, mudanças no tempo das migrações também podem levar a diferenças entre quando os filhotes precisam ser alimentados e a disponibilidade de alimentos.
Fonte: BBC