Não somos apenas nós, humanos, que estamos sofrendo com a pandemia causada pelo novo coronavírus. Como revelou uma investigação da Science, com o aumento de casos de Covid-19 pelo mundo e a implantação do distanciamento social em diversos países, outra população está sofrendo: a de roedores.
Isso porque centenas de colônias de ratos de laboratório estão sendo sacrificadas por cientistas que já não podem monitorar e cuidar dos animais. “Esta é uma situação difícil para todos, e garanto que a decisão de realizar eutanásia nos animais não foi fácil”, afirmou Peter Smith, diretor associado do Centro de Recursos Animais da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
O mesmo procedimento está sendo adotado em outras universidades norte-americanas, como mostrou a investigação do periódico. Eric Hutchinson, diretor de pesquisa de recursos animais da Universidade Johns Hopkins explicou que a equipe da instituição já está trabalhando em dobro durante a pandemia e que o abate é essencial para preservar a saúde dos funcionários e animais. “É sombrio e triste, mas é algo que precisa ser feito”, comentou o especialista.
Ainda assim, ambas as instituições fizeram questão de destacar que os animais sacrificados fossem aqueles que “seriam mortos de qualquer maneira”, porque, por exemplo, não nasceram com o perfil genético necessário para o laboratório ou para experimentos específicos. “Mas, em vez de tomar essa decisão ao longo de 2 a 3 semanas, como os pesquisadores normalmente tomam, estamos pedindo que as tomem em 48 horas”, pontuou Hutchinson.
Mas nem todas as instituições têm essa flexibilidade. Isabella Rauch, imunologista da Universidade de Oregon, por exemplo foi informada de que deveria abater todos camundongos que não fossem essenciais para suas pesquisas. “Eu estava olhando meus ratinhos um por um e decidindo quem vive e quem morre”, relatou Rauch. “Foi muito difícil.”
Segundo os especialistas, normalmente os animais são mortos com dióxido de carbono, mas seus pescoços são quebrados por garantia. Rauch acredita que sua universidade está atualmente no “nível 3 de gravidade” — se atingirem o “nível 4”, ela precisará restringir sua colônia a apenas 10% dos ratinhos. “Espero que não cheguemos lá”, comentou.
Enquanto isso, o grupo de direitos dos animais Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (PETA), que chamou a atenção para o problema, definiu as medidas como uma “matança”. “Por que esses animais, mesmo com os experimentos sendo aprovados pelo órgão de supervisão das escolas, agora são tão facilmente descartados?, questionou Kathy Guillermo, vice-presidente sênior da organização.
Hutchinson fez questão de dizer que nem ele e nem a Universidade Johns Hopkins estão forçando os pesquisadores a abater seus ratos. “Não temos [o intuito] e não sacrificaremos animais apenas para conservar recursos”, observou ele. “Estamos apenas pedindo aos investigadores que reavaliem quais animais eles realmente precisam.”
Felizmente, como reportou a Science, a PETA ainda não se pronunciou sobre animais maiores, como gatos, cães ou macacos, sendo sacrificados proativamente. Hutchinson comentou que espera que isso realmente não esteja acontecendo.
De acordo com ele, ao contrário dos animais maiores, os ratos se reproduzem rápido e devem ser usados também rapidamente. Além disso, o especialista disse que os roedores compõem cerca de 95% de todos os animais pesquisados, consumindo mais tempo e dinheiro dos pesquisadores.
Fonte: Revista Galileu