Inpa e Samsung vão implantar primeira rede de monitoramento ambiental em Manaus

O Ieté avaliará a possibilidade de injeção de água ao aquífero da bacia do igarapé do Educandos, que corta o Distrito Industrial, e proporcionará a partir de indicadores previsões de ações para monitoramento ambiental e a sustentabilidade de recursos naturais

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), em parceria com a Samsung Eletrônica da Amazônia Ltda. (Seda-M), trabalha no projeto “Ieté”, que visa a implantação de uma rede integrada de monitoramento ambiental focada na gestão de efluentes da Bacia Hidrográfica do Educandos e num sistema de recarga artificial de água no aquífero via poços tubulares secos. A técnica de injeção de água no aquífero local é pioneira no Amazonas.

Coordenado pelo pesquisador do Inpa vinculado à Coordenação de Dinâmica Ambiental, o geólogo Márcio Luiz da Silva, o projeto será desenvolvido por três anos (2019-2022). O Ieté – nome que significa “água verdadeira” na língua indígena Tupi -, é um projeto de P&D, com investimento de R$ 7 milhões, que conta com recursos da Lei de Informática, e o primeiro do Inpa firmado com uma empresa privada do Polo Distrito Industrial de Manaus (PIM). O lançamento oficial ocorreu em dezembro de 2019.

O Projeto será desenvolvido ao longo dos três anos, quando serão realizadas uma série de análises físico-químicas e microbiológicas da água, instalação de torres meteorológicas, perfuração de poços rasos e profundos com diversos testes de propriedades físicas (infiltração, percolação) do aquífero, e mapeamento vegetal de áreas específicas da Bacia Hidrográfica.

“Este é um novo modelo de gerenciamento da água, considerando novas opções e soluções que impliquem na racionalização do seu consumo, onde o reuso se torna uma solução mais eficiente de conservação, manejo e monitoramento”, explicou Silva.

Conforme o pesquisador, o projeto implantará a primeira rede de monitoramento ambiental em Manaus, já que unirá os monitoramentos hidrológico, hidrogeoquímico, meteorológico e hidrogeológico. Hoje o que existe em Manaus, ainda segundo Silva, são várias redes de monitoramento hidrológico e meteorológicos, mas não ambiental.

Outro diferencial do Ieté é a geração de produtos e a formação de recursos humanos para a região. “Este projeto representa um tripé, no qual empresa, sociedade e Instituição de pesquisa trabalham juntos por um bem comum”, destaca a coordenadora de Ações Estratégicas do Inpa, Hillândia Cunha.

Ações

As pesquisas do projeto estão divididas em cinco grupos de trabalho (Hidrologia, Química, Hidrogeoquímica, Meteorologia e Mapeamento Vegetal), com a equipe formada por 30 bolsistas e sete participantes indiretos.

O Ieté deu início às instalações de poços e torres meteorológicas e está buscando fechar parcerias com Instituições, como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), por possuírem nascentes do igarapé do Quarenta (que faz parte da Bacia do Educandos) e que permitem o monitoramento in loco. A Bacia do Educandos possui 44.563 quilômetros quadrados.

“Além dos igarapés urbanos, que fazem parte da Bacia, o projeto possui pontos de coleta nas reservas do Inpa, como a Reserva Adolpho Ducke e a Reserva Cuieiras (ZF-2)”, contou Silva. “No segundo ano, o Projeto será contemplado com a modernização do Laboratório de Química Ambiental do Inpa, via recursos do projeto P&D”, contou o coordenador.

Segundo Silva, a injeção de água tratada será feita via infiltração, de acordo com os padrões de proteção exigidos pelos órgãos ambientais competentes, basilados nos procedimentos gerais estabelecidos na Resolução CNRH nº 91/2008 para o enquadramento dos corpos d’água superficiais e subterrâneos, nas diretrizes da Resolução CNRH nº 15/2001 para a gestão de águas subterrâneas, na Resolução nº 153, de 17 de dezembro de 2013 – CNRH – MMA que estabelece critérios e diretrizes para implantação de Recarga Artificial de Aquíferos no território Brasileiro. Por ser um projeto de pesquisa, a viabilidade ainda é desconhecida, mas em caso positivo a empresa Samsung será a primeira a fazer a reinjeção de água no Amazonas.

Vantagens

Conforme a coordenação do Projeto, o desenvolvimento da técnica de injeção de água no aquífero local trará benefícios ambientais à região, em termos de preservação e gestão dos recursos hídricos, e à sua sustentabilidade presente e futura.

Outra vantagem é que a técnica possibilitará mensurar o quantitativo, a capacidade de recarga e autodepuração de água do aquífero, utilizado há dezenas de anos por empresas instaladas no Distrito Industrial de Manaus. Outra característica inovadora do projeto é a criação da rede de monitoramento ambiental numa bacia hidrográfica urbana, inédita na região.

Silva lembra da responsabilidade do uso racional da água nas plantas industriais e das oportunidades nesse campo. “É preciso investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, na implantação de sistemas de tratamento avançado de efluentes e em sistemas de conservação mais voltados para a realidade local, que resultem redução de perdas e na devolução de água ao aquífero, sendo este o principal elemento da presente proposta, o que levará significativos ganhos ambientais, sociais e econômicos abraçados na legislação estadual vigente”, afirmou.

Do ponto de vista das políticas públicas, o projeto Ieté, através de seu pioneirismo, se lança no intuito de buscar alternativas cientificas e tecnológicas (adequadas, legais e seguras) para, de certa forma, compensar o meio ambiente hídrico, mesmo que parcialmente, com o retorno de água explotada do aquífero.

O coordenador acredita que o Projeto Ieté terá desafios importantes a serem superados, como técnicos – pelo pioneirismo do objetivo, e legais – pela inexistência da iniciativa tecnológica e científica, que serão, responsavelmente, identificadas e trabalhadas na busca do entendimento técnico-científico e proposto.

Saiba Mais

O Projeto Ieté é um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), conforme estabelecido no art. 2º, da Lei nº 8.387, de 1991, regulamentada pelo Decreto nº 6.008, de 2006 e com nova redação dada pela Lei nº 13.674, de 2018.

Fonte: INPA