Família Schurmann adota lições do mar para enfrentar o distanciamento social e inspira brasileiros

Defensora da campanha Mares Limpos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Família Schurmann usa a experiência de 36 anos de expedições pelos mares para enfrentar os desafios do distanciamento social.

Paciência, resolução rápida de conflitos e divisão de tarefas nas atividades do dia a dia são algumas das estratégias que podem ser incorporadas por todos no atual cenário da pandemia de COVID-19.

Wilhelm, Ericka e Vilfredo Schurmann seguem confinados num veleiro nas Ilhas Falkland. Foto: Família Schurmann

Até a pandemia do coronavírus surpreender o mundo todo, os isolamentos da Família Schurmann, defensora da campanha Mares Limpos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), sempre tinham sido a bordo e motivados por sonhos. Agora, o distanciamento social é uma medida adotada conscientemente, por necessidade e respeito à sociedade, dividindo o clã entre isolados em terra – Heloisa e o filho David Schurmann – e no mar, Vilfredo e o caçula Wilhelm Schurmann, que estão a bordo do veleiro Kat, nas Ilhas Falklands/Malvinas. Apesar de serem momentos completamente distintos, as experiências de 36 anos de expedições pelos mares do planeta têm ajudado a Família Schurmann a encarar os desafios da vida cotidiana e inspirado muitos brasileiros num momento tão inesperado.

“Sei que não é fácil e reconheço que essa situação impacta de maneiras diferentes na vida de cada um. Mas é fundamental ter e exercitar a paciência’”, destaca Heloisa Schurmann. Na primeira – e histórica – volta ao mundo dos Schurmann, a tripulação contava com cinco integrantes: Heloisa, Vilfredo e os filhos Pierre, David e Wilhelm. Em um espaço de 44 m2, eles tiveram sua primeira experiência de isolamento, passando 30 dias dentro de um veleiro, cercado de água por todos os lados, enquanto cruzavam um oceano. Não tinha para onde ir. Não tinha como dar uma escapadinha. No horizonte só se via mais água.

Heloisa diz que, numa situação dessas, se todos não mantiverem a paciência, forma-se a bordo uma “tempestade” mais forte e comprometedora do que qualquer tormenta natural. “Precisa paciência para entender que estão todos literalmente no mesmo barco. O meu espaço passa ser, na maioria das vezes, o nosso espaço”. Um dos principais ensinamentos é o respeito. “O meu espaço é o nosso espaço, mas isso não tira o meu direito (e dos demais) de ter um momento só meu (ou deles). Que eu fique quietinha comigo mesmo, num cantinho qualquer”, aconselha.

A Família Schurmann defende uma regra que vem seguindo há décadas: essa convivência tão próxima e intensa não permite apego a picuinhas e mágoas. Discussões e divergências de pensamento fazem parte, mas não podem se tornar um monstro que vai sendo alimentado a cada dia. “A bordo, se alguém faz algo que não agrada o outro, senta-se frente a frente e se conversa sobre a questão, buscando resolver ali, naquele momento. Se vem uma tempestade, a tripulação precisa estar bem resolvida e unida para enfrentar o desafio com serenidade”, ensina Heloisa.

Das experiências a bordo vêm também a divisão de tarefas. Isso já deveria ser uma prática comum na casa de todo mundo, mas tem se mostrado para lá de necessária nessa fase de trabalho e ensino em casa e tarefas comunitárias como limpar e cozinhar. “Quando zarpamos para a primeira volta ao mundo, Pierre tinha 15 anos, David, 10, e Wilhelm, 7. E todos eles ajudavam nas tarefas a bordo, tanto para a navegação em si, como na limpeza e demais tarefas domésticas”, recorda Heloisa. As expedições Schurmann sempre foram momentos de intensa integração e convívio familiar, cultivando a conversa, o bom humor e a coletividade a bordo.

“Essa tempestade vai passar. Precisamos estar atentos ao futuro. Nesse momento de intensa reflexão, podemos observar os efeitos do ‘planeta sem o homem’. A natureza se recriando, os índices de poluição despencando”, reflete Heloisa, lembrando que sua família tem um compromisso com os mares e o planeta. Quando a pandemia passar, os Schurmann intensificarão ainda mais o movimento Voz dos Oceanos, que inclui uma expedição com o apoio global do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Voz dos Oceanos

Em breve a Família Schurmann parte para sua próxima grande expedição mundial, contando com o apoio global do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Com Voz dos Oceanos, os Schurmann vão testemunhar e registrar, in loco, o que está acontecendo nos oceanos; navegar em busca de soluções inovadoras, e conscientizar e engajar as pessoas ao redor do mundo para a necessidade de ações urgentes. Nessa nova expedição, a Família Schurmann pretende envolver cientistas, ambientalistas, empreendedores, ONGs e governos com propostas para reverter o cenário de destruição dos mares. O projeto envolve ainda ações de empreendedorismo e educação.

Fonte: ONU