Estudo aponta que partículas provenientes do tráfego rodoviário, como partes de pneus e pastilhas de freio, são transportadas das estradas para os mares por correntes de ar, poluindo os oceanos tanto quanto os rios.
Dezenas de milhares de toneladas de microplásticos provenientes do tráfego rodoviário vão parar nos oceanos do mundo a cada ano transportados pelas correntes de ar, afirma uma nova pesquisa divulgada nesta terça-feira (14/07) pela revista científica Nature Communications.
O resultado do estudo confronta a ideia de que os rios são a principal fonte de poluição oceânica. Segundo os cientistas, um terço de todo o microplástico produzido pela poluição rodoviária (estimado entre 40 mil e 100 mil toneladas) é despejado nos oceanos a cada ano, em comparação com as 65 mil toneladas de microplásticos que vão parar no mar pelos rios.
Com potencial de acelerar o derretimento do gelo no Ártico, os microplásticos – partículas minúsculas de pedaços maiores do material quando se quebra, além de microfibras de roupas e outros materiais – já foram encontrados tanto no topo de algumas das geleiras mais altas da Terra como no fundo de suas depressões mais profundas.
Para o estudo em questão, pesquisadores da Noruega e da Áustria se concentraram particularmente em microplásticos derivados de pastilhas de freio e pneus de veículos rodoviários.
Eles coletaram dados sobre a quantidade desses microplásticos que é dispersa no ar, e os combinaram com simulações de onde eles poderiam ser transportados pelas correntes de vento.
“O transporte atmosférico, uma fonte subestimada ou nem sequer considerada, tem o mesmo impacto na poluição microplástica do oceano que o transporte fluvial”, disse à AFP Nikolaos Evangeliou, do Instituto Norueguês de Pesquisa do Ar e principal autor do estudo.
Ele acrescenta ainda que os microplásticos já vinham afetando a saúde humana e animal, pois são capazes de absorver compostos orgânicos e metais pesados tóxicos, que, por sua vez, são ingeridos e entram na cadeia alimentar.
A maioria das emissões de plástico do tráfego rodoviário é produzida em regiões com veículos pesados, como América do Norte, Norte da Europa e Sudeste da Ásia.
O papel do microplástico no aquecimento global
Enquanto a produção global de plástico só aumenta, tendo chegado a 359 milhões de toneladas em 2018, o estudo de Evangeliou consiste em uma tentativa inédita de determinar quanto do material derivado de pneus e pastilhas de freio de veículos rodoviários é disperso e depositado pelas correntes de ar.
Os cientistas descobriram também que, quando simulavam para onde essas emissões eram transportadas pelos padrões climáticos globais, uma quantidade significativa tendia a acabar no Ártico. Dada a cor escura das partículas de plástico, que absorve mais calor do Sol, a poluição poderia afetar a taxa de derretimento do gelo por lá, alertaram os pesquisadores.
“Essas pequenas partículas podem atuar como impurezas absorvedoras de luz quando depositadas na neve e nas superfícies de gelo, diminuindo a área (reflexão de calor) e acelerando o derretimento”, explicou Evangeliou.
Com vários países prometendo encerrar a produção de veículos a gasolina e a diesel nas próximas décadas, o artigo sugeriu que as emissões de plástico nas estradas continuarão a representar uma ameaça ambiental crescente, já que pneus e freios provavelmente serão os mesmos, inclusive nos modelos elétricos.
“O impacto ambiental dos microplásticos nas estradas é decorrente dos materiais de que são feitos: combustíveis fósseis, como etileno e propileno”, disse Evangeliou. “Assim, a maior necessidade de plásticos resulta em maiores emissões de gases de efeito estufa.”
Fonte: Deutsche Welle