Mico-leão-dourado ganha 1º viaduto vegetado do Brasil, uma ponte para o futuro da espécie

Dia do Mico-Leão-Dourado foi celebrado neste domingo (2). Viaduto conecta fragmentos da Mata Atlântica para unir populações isoladas e se torna um dos marcos da conservação da biodiversidade no país.

Primeiro viaduto vegetado do Brasil foi inaugurado na BR-101, em Silva Jardim, no RJ — Foto: Andréia Martins/Divulgação AMLD e Divulgação/Arteris Fluminense

Neste domingo (2), Dia do Mico-Leão-Dourado, a espécie endêmica do Rio de Janeiro e que está ameaçada de extinção ganhou o primeiro viaduto vegetado do Brasil. A obra é um dos marcos da conservação da biodiversidade do país e vai contribuir para o futuro da espécie.

A obra, com orçamento de R$ 9 milhões, começou em 2018 no km 218 da BR-101, em Silva Jardim, no interior do Rio de Janeiro, e foi concluída na última segunda-feira (27) pela Arteris Fluminense, concessionária que administra a rodovia.

O viaduto recebeu o plantio de mudas nativas da Mata Atlântica. Toda a estrutura, que inclui uma cerca de condução de fauna, já está pronta para cumprir um importante papel: conectar a Reserva Biológica Poço das Antas, um dos principais habitats do Mico-Leão-Dourado, à Área de Proteção Ambiental Rio São João/Mico-Leão-Dourado.

O mico-leão-dourado poderá usar o viaduto vegetado daqui a alguns anos, quando a vegetação crescer dando mais segurança aos micos — Foto: Reprodução ICMBio e Divulgação Arteris Fluminense

Daqui a alguns anos, com o crescimento da vegetação no viaduto, a travessia dos animais se tornará mais segura e permitirá o encontro deles com outros membros da espécie que estavam isolados em outros fragmentos da Mata Atlântica.

Esse encontro é fundamental para a reprodução do mico, já que contribuirá para um intercâmbio genético, reduzindo o cruzamento entre parentes e, assim, os problemas de consanguinidade.

Viaduto vegetado foi construído para auxiliar na travessia de animais silvestres na BR-101, no RJ — Foto: Divulgação/Arteris Fluminense

O trecho onde o viaduto se encontra foi escolhido após mapeamento que identificou os locais mais sensíveis ambientalmente e com altos índices de atropelamento de animais.

O secretário executivo da Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), Luís Paulo Ferraz, ressalta que as florestas de baixada do interior do estado do Rio de Janeiro são a única área do mundo onde vivem os micos-leões-dourados. Ao G1, ele falou sobre a chegada do tão esperado viaduto vegetado.

“As matas da região são muito fragmentadas e a duplicação da rodovia forma uma barreira impedindo a circulação dos animais e isolando populações. Os micos utilizam as árvores para mover, eles precisam se sentir protegidos de predadores. Se tudo der certo no plantio realizado, acreditamos que de dois a três anos já teremos um bosque que possibilite o uso. Mas o projeto é de longo prazo e o importante é que nas próximas décadas essa movimentação dos animais seja feita com mais segurança e permita o equilíbrio ecológico na reserva”, explicou Luís Paulo.

A Reserva Biológica de Poço das Antas foi a primeira unidade de conservação da espécie no Brasil, sendo criada em 1974 pelo então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF, atualmente Ibama).

Luís Paulo disse ainda que está previsto um segundo viaduto no licenciamento ambiental da duplicação da rodovia.

“Este problema com as infraestruturas que cortam a paisagem de conservação dos micos foi bem encaminhado e esperamos excelentes resultados. Outras passagens mais leves também foram construídas como túneis para a fauna terrestre e passagens copa a copa (como uma passarela de pedestres) que permitem os animais cruzarem a rodovia”, afirma.

Dia do mico-leão-dourado é comemorado neste domingo (2) — Foto: Haroldo Palo

Febre amarela e a redução da população

Por volta da década de 1970, a população estimada do mico-leão-dourado era de apenas 200 animais. Em 2014, após um intenso trabalho para recuperação da espécie, que envolveu a articulação com zoológicos de várias partes do mundo, vários animais foram reintroduzidos na natureza e a população foi elevada para 3.200, como mostrou o Fantástico numa reportagem exibida em agosto de 2014 (Relembre no vídeo abaixo).

Porém, atualmente, esse número já é bem menor devido ao surto de febre amarela que atinge a espécie.

“A estimativa atual é de 2.500 micos-leões-dourados. O surto de febre amarela que ocorreu na região a partir de 2017 causou um sério impacto na população. Mesmo assim, a situação é bem melhor de quando o trabalho foi iniciado nos anos 1980, quando a população estimada na natureza era de cerca de 200 animais”, disse Luís Paulo.

Mesmo com o aumento da população, o trabalho de preservação da espécie ainda enfrenta muitos obstáculos e está longe de terminar.

“Apesar de estar em situação muito melhor hoje, atualmente corre risco, seja por doenças, como a febre amarela, seja pela redução das florestas na região onde ele [o mico] ocorre. Esta região foi muito desmatada. A fragmentação florestal dificulta a reprodução da espécie. Há outras estruturas como linhas de transmissão, oleodutos e gasodutos que influenciam também [para a redução da espécie]. Ainda temos sérios problemas de queimadas, desmatamentos por diversos motivos e muitas áreas de pastos. A restauração das florestas é uma atividade muito importante em nossa região e já temos diversas áreas plantadas conectando fragmentos isolados de florestas. Hoje a maior preocupação é com o impacto da febre amarela na população que pode ainda demorar para ser recuperada”, alerta Luís.

A AMLD

Foi no início dos anos 1960 que o primatologista Adelmar F. Coimbra Filho estabeleceu as bases para um programa de salvamento do mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), espécie endêmica do estado do Rio de Janeiro que contava com população de apenas 200 micos. E foi na década de 1970 que o Programa de Conservação do Mico-Leão-Dourado teve início, por meio da cooperação entre o Instituto Smithsonian /Zoológico Nacional de Washington, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF, atual Ibama) e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (atualmente INEA), através do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ).

De acordo com o Luís Paulo, a AMLD se mantém por meio de diversas estratégias de captação de recursos.

“Através da execução de projetos em parcerias, patrocínio, prestação de serviços, doações, ecoturismo e venda de produtos. Atualmente, temos parcerias com diversas organizações, do Brasil e do exterior, tais como Fundo Disney para a Conservação, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade-Funbio, ExxonMobile, EDF Norte Fluminense, DOB Ecology, Zoológicos de Copenhague, Atlanta e Filadélfia entre outros”.

Fonte: G1