A cidade de São Paulo pode ter “chuva preta” entre esta sexta-feira (18) e domingo (20), segundo meteorologistas do Climatempo. O fenômeno ocorre quando o vento traz a fumaça das queimadas e incêndios florestais até uma área onde existem nuvens de chuva. Além do estado de São Paulo, é possível que a camada de fumaça encubra também áreas do centro-sul do Rio de Janeiro, incluindo a capital, e do centro-sul de Minas Gerais.
A ocorrência do fenômeno, no entanto, depende da quantidade de material particulado trazida pelos ventos que sopram do interior do país em direção ao Sudeste. No último final de semana, a chuva de coloração escura ocorreu em regiões do Rio Grande do Sul.
Além da chance de chuva escura, há ainda a possibilidade de que o céu adquira tons alaranjados durante o dia.
No caso de São Paulo, a fuligem que pode chegar à capital deve ser originária não apenas do fogo que atinge o Pantanal, mas também das queimadas que ocorrem no interior do estado, explica Alexandre Galvão, meteorologista do Climatempo.
Neste ano, os focos de incêndio em SP mais do que dobraram, em comparação com 2019. O aumento ocorreu especialmente nos meses de agosto e setembro.
A expectativa é a de que uma frente fria vinda do Sul do país chegue ao estado de São Paulo na sexta-feira (18), trazendo possibilidade de chuva para o fim da tarde. Há previsão de chuva também para a tarde de sábado (19) e para todo o domingo (20), quando as temperaturas devem cair e as pancadas devem ser mais fortes.
“A chuva sempre lava a atmosfera, ela leva a poeira, poluição, eventual fuligem, todo material particulado que estiver na atmosfera. Então a chance de chuva escura é maior nas primeiras chuvas previstas”, explica o meteorologista Alexandre Galvão.
A fuligem viaja a uma altura maior do que o material particulado proveniente da poluição comum e pode ser absorvida pela nuvem, dando origem às nuvens pretas que chamam a atenção no céu das grandes cidades, segundo Theotonio Pauliquevis, físico e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“As nuvens de chuva ficam de 1,5 km a 10 km do solo. Quando a poluição parte do nível de superfície e vem de carros ou fábricas, ela fica presa embaixo das nuvens, formando uma camada visível, mais escura, no horizonte”, explica. “Aí, quando a água cai, ela bate nas partículas e a enxurrada leva essa poluição comum.”
“Já a nuvem de fumaça viaja a cerca de 3 km ou 4 km do solo. Ela bate de frente com a nuvem de chuva, que absorve a fuligem e forma essa espécie de gosma que dá origem às nuvens escuras e avermelhadas e também à chuva ‘preta’, mais escura que o normal”, diz o pesquisador, que estuda a composição química da chuva na Amazônia em períodos de queimadas.
Chuva preta em 2019
Em 19 de agosto de 2019, o fenômeno da chuva negra ocorreu na cidade de São Paulo por conta de queimadas que ocorriam na Amazônia.
Análises técnicas feitas por duas universidades mostraram que a água da chuva de cor escura coletada por moradores da capital continha partículas provenientes de queimadas. Nas redes sociais, moradores da Grande São Paulo postaram fotos da água da chuva escura.
O teste feito pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) identificou a presença de reteno, uma substância proveniente da queima de biomassa e considerada um marcador de queimadas, na água da chuva coletada na segunda-feira.
Já o exame realizado pela Universidade Municipal de São Caetano (USCS) mostrou que a concentração de material particulado, ou seja, de fuligem, foi sete vezes maior do que a registrada na água de uma chuva normal.
Enquanto os pesquisadores da USP analisaram a identificação de reteno, que é um marcador de queimadas, a análise da USCS verificou quantidade de fuligem 7 vezes mais que o normal e a presença de sulfetos 10 vezes superior à média. A substância é proveniente da queima de combustíveis fósseis e queimadas.
“Se eu estou com 7 vezes mais do que deveria ter, eu tenho nessa água substâncias químicas que podem afetar a saúde. Agora a gente vai ter que investigar o que que é isso”, diz Marta Marcondes, bióloga e professora da linha de pesquisa de saúde e meio ambiente da USCS.
Marcos Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), diz que a fuligem proveniente das queimadas também pode conter substâncias tóxicas aos seres humanos. “Se nós tivéssemos recebido a fumaça sobre a cidade, sem a presença de uma frente fria que trouxe chuva, isso poderia ter um efeito muito pior nas pessoas”, diz.
O repórter cinematográfico Leandro Matozo, da GloboNews, coletou a água com fuligem em baldes no quintal da casa onde mora, em São Mateus, na Zona Leste da capital. As amostras recolhidas no local foram utilizadas nos exames das universidades.
Fonte: G1