A cidade de São Paulo bateu recordes de calor na quarta-feira (30), com a segunda temperatura mais alta registrada na cidade (37,1°C), segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a segunda maior média de temperatura máxima (36,8°C), segundo registros do Centro de Emergência Climática da Prefeitura de São Paulo.
O calor sufocante não é exclusividade da capital paulista: atingiu o Sudeste e o Centro-oeste do país com força na última semana de setembro. Cuiabá registrou 43,7°C na quarta e chegou a 44°C na quinta (1º) — a maior temperatura já registrada pelo Inmet na cidade desde o início da medição, em 1910, e a terceira maior temperatura já registrada no Brasil.
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Segundo meteorologistas, o fim da primavera está ficando cada vez mais quente nessas duas regiões do país, mas isso não necessariamente significa que teremos um verão mais quente do que a média. Entenda.
Por que está fazendo tanto calor?
O principal motivo do calor neste início de primavera é o que os meteorologistas chamam de bloqueio atmosférico — quando ventos fortes nas camadas mais altas da atmosfera (a cerca de 12 mil metros de altura) impedem frentes frias que estão chegando no sul do país de irem até o sudeste e o centro-oeste, explica o Francisco de Assis, meteorologista do Inmet.
“Ventos na alta atmosfera que estão sobre o centro da Argentina e atingem parte do Rio Grande do Sul estão (se movendo) na posição de oeste para leste. Toda vez que chega uma frente fria na região sul, eles não deixam a frente fria ir para o norte, a empurram para o oceano”, explica Assis. “Já faz dois meses que temos esse bloqueio.”
O bloqueio atmosférico impede a umidade de chegar ao sudeste e ao centro-oeste e faz com que haja uma “persistência de uma massa de ar seco sobre essas regiões”, explica Thomaz Garcia, meteorologista do Centro de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura de São Paulo.
“Quando isso persiste por muitos dias, que é o caso agora, a gente tem esses recordes de temperatura, porque a umidade ajuda a diminuir a temperatura.”
“Este ano só choveu 20% da média para essa época”, afirma Garcia.
Olhando a série histórica de temperaturas da cidade, explica Garcia, é possível perceber que o início da primavera tem ficado mais quente desde os anos 2000. E, segundo Assis, do Inmet, é um padrão que se repete em outros Estados, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
“Estamos tendo bem menos dias de frio do que há 15 anos, 20 anos atrás, estamos tendo invernos suprimidos e ondas de calor, com vários dias seguidos de calor, cada vez mais frequentes”, explica Garcia.
Mais calor e menor umidade do ar podem levar à problemas respiratórios e desidratação, além de desequilibrar o ecossistema, podendo levar ao aumento de pragas. Autoridades de saúde, como a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, alertam para a importância de beber água, tentar manter o ambiente doméstico úmido (com umidificadores, por exemplo) e procurar os serviços de saúde em caso de problemas respiratórios.
Também é importante tomar cuidado para que os animais domésticos não sofram com o calor: eles precisam de água fresca e ambientes ventilados, além de cuidado ao passear para não queimarem as patas.
O bloqueio atmosférico deve durar mais duas semanas, até por volta dos dias 12 e 13 de outubro, afirma Francisco de Assis, do Inmet.
Nessas datas, o vento deve mudar e romper o bloqueio, levando chuvas e amenizando as temperaturas no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul, no sul de Goiás e em Minas Gerais.
“Teremos pelo menos mais duas semanas de calor, até começar a chover. Aí então a tendência é termos muitos temporais.”
Como será o verão?
Primaveras mais quentes não necessariamente significam que este ano teremos um verão com recorde de calor no sudeste e centro-oeste, explicam os meteorologistas, porque até o início do verão o bloqueio atmosférico que mantém essa massa de ar seco sobre as regiões vai ter se desfeito.
“O fenômeno que aumenta a temperatura no início da primavera não tem nada a ver com o verão”, explica Francisco de Assis.
“Não temos ainda uma previsão precisa, mas a tendências que tenhamos um verão com temperaturas na média ou até mais baixas do que o normal em São Paulo — poderemos ter alguns dias de frio até dezembro devido a ondas de frios tardias”, afirma Garcia, do CGE.
Assis explica também que “o verão no centro-oeste e no sudeste é chuvoso, aí cai um pouco a temperatura (em relação ao que temos agora). Já na região sul, inverte-se a situação. Chovendo mais para cá, falta umidade no sul, e lá sim as temperaturas podem subir muito”.
Este ano também teremos o fenômeno La Niña, que deve afetar o país.
O La Niña acontece quando a temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico fica mais fria do que o normal. Por causa da dimensão da massa de água, a queda de temperatura modifica a circulação atmosférica naquela região. O fenômeno cria uma variação de intensidade nos ventos que, consequentemente, altera a distribuição das massas de ar quentes e frias em todo o mundo.
Neste ano, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a previsão é que o La Niña seja de baixa intensidade e dure até novembro.
Se o fenômeno afetar as regiões sudeste e centro-oeste, vai deixar o ar mais seco que o normal para o verão e as temperaturas mais amenas.
O ar mais seco do que o normal no verão, no entanto, pode agravar as queimadas no Pantanal, que já destruíram quase 3 milhões de hectares no bioma.
No sul do país, a tendência é que os efeitos do La Niña sejam sentidos na forma de menos chuvas. E no nordeste e norte, a tendência é de tempo mais chuvoso.
Fonte: G1