Em estudo, 97% sentem aumento da temperatura em áreas de Mata Atlântica de SP

Pesquisa colheu informações sobre incidência de doença e outros problemas ecossistêmicos entre 105 famílias que moram em áreas remanescentes do bioma no estado

Imagens da ilha de Cananeia, cujos moradores caiçaras foram entrevistados sobre os impactos das mudanças climáticas (Foto: Wikimedia Commons )

Pesquisadores do Brasil e da Austrália conduziram um estudo que investigou os impactos da crise climática global em comunidades localizadas na porção de Mata Atlântica do estado de São Paulo. Os resultados da pesquisa foram publicados no periódico Regional Environmental Change em 29 de julho.

Durante a fase de pesquisa, 105 famílias foram entrevistadas pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e os pesquisadores resolveram estudar diferentes contextos ambientais de regiões de bacias hidrográficas em São Paulo.

Para avaliar essa diferença entre contextos ambientais, participaram da investigação comunidades caiçaras do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, em Cananeia; cooperativas e pequenos produtores de Corumbataí; e agricultores de Monteiro Lobato, no Vale do Paraíba.

Esses lugares foram escolhidos por ainda possuírem pedaços remanescentes da Mata Atlântica. Somente em Cananeia existe 60% de vegetação da Mata Atlântica original, e a Ilha do Cardoso tem 81% de seu território coberto pela vegetação nativa. Corumbataí, por ser uma região de base agropecuária, retém cerca de 7% da cobertura de vegetação original. Já em Monteiro Lobato, ainda existe um terço da vegetação nativa, em uma região que é fonte de água para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Após entrevistas com os moradores voluntários dos locais, as respostas foram divididas em três grupos, de acordo com a relação aos serviços ecossistêmicos. Foram eles: regulação climática, provisão de alimentos e subsídio às relações socioculturais.

No âmbito de regulação climática, os danos ao equilíbrio do clima local, à qualidade da água e do ar foram os mais citados pelos entrevistados. Sobre a provisão de recursos, os pontos mais citados foram a escassez de peixes no mar, a piora nas condições climáticas para a lavoura e a criação de animais, a falta de água fresca e de alimentos na natureza.

Quanto aos aspectos socioculturais, foram lembrados sentimentos de pertencimento e de inspiração à natureza, além de turismo e heranças culturais.

Outro dado que chama atenção é que, ao todo, 97% das 105 famílias alegaram que já perceberam o aumento da temperatura e outras consequências relevantes das mudanças climáticas, como a falta de chuvas.

Em Cananeia, 37,9% dos entrevistados relataram perceber os impactos das mudanças climáticas na saúde. Além disso, insegurança econômica (31%) e danos à infraestrutura (10,3%) também foram relatados.

Em Corumbataí, 44,8% dos entrevistados perceberam danos à saúde, 17% mencionaram a insegurança econômica, 6,9% relataram problemas na infraestrutura  e 7% apontam maior incidência de doenças.

Já a insegurança econômica foi o fator mais apontado em Monteiro Lobato, onde 33% dos entrevistados comentaram sobre problemas na área, seguido por queixas na saúde (18%), disponibilidade de água fresca (9%) e danos à infraestrutura (6%). 

“As pessoas percebem no dia a dia a variabilidade climática em jogo. Estamos vivenciando uma perda gigantesca de serviços ecossistêmicos, de floresta, de biodiversidade, e isso tem afetado a vida da população, seu bem-estar, suas relações sociais e seus modos de vida coletivos”, diz Patrícia Pinho, diretora adjunta de pesquisa no IPAM e autora principal do estudo, em release para imprensa. “É uma realidade que coloca em pauta, inclusive, a matriz econômica e as maneiras que a gente pensa o desenvolvimento.”

Fonte: Galileu