Vazamentos, derramamentos e outras contaminações por petróleo são a principal forma de introdução de hidrocarbonetos no oceano – e, como consequência, gerando um tremendo impacto ambiental.
Porém, pesquisadores da Universidade Santa Barbara (UCSB) descobriram que que certas cianobactérias produzem compostos semelhantes aos produtos petrolíferos, num ciclo global e diário que pode nos ajudar a lidar melhor com a poluição causada pelo óleo no mar.
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“Demonstramos que existe um ciclo de hidrocarbonetos massivo e rápido que ocorre no oceano e que é diferente da sua capacidade responder à entrada de petróleo”, afirma David Valentine, professor do Departamento de Ciências da Terra na UCSB. A pesquisa, publicada na Nature Microbiology, foi liderada por seus alunos de pós-graduação Eleanor Arrington e Connor Love.
Devido ao seu vasto número nos oceanos, apenas dois tipos de cianobactérias marinhas adicionam “500 vezes mais hidrocarbonetos ao oceano por ano do que a soma de todos os outros tipos de entradas de petróleo”, explica Love. Esses micróbios produzem coletivamente 300 milhões a 600 milhões de toneladas do hidrocarboneto pentadecano por ano.
Essa quantidade supera as 1,3 milhão de toneladas de hidrocarbonetos liberados de todas as outras fontes, incluindo o óleo natural vazado, derramamentos de óleo, despejo de combustível e escoamento da terra.
Embora essas quantidades sejam impressionantes, elas são um pouco enganosas. Os autores apontam que o ciclo pentadecano abrange 40% ou mais da superfície da Terra, mas o ciclo de vida dessas bactérias é inferior a dois dias. Como resultado, os pesquisadores estimam que o oceano contém apenas cerca de 2 milhões de toneladas de pentadecano por vez.
“É uma roda que gira rápido”, explica Valentine, “a quantidade real presente em qualquer ponto no tempo não é particularmente grande. A cada dois dias você produz e consome todo o pentadecano do oceano”, completa.
Essa capacidade de absorção de hidrocarbonetos pode ser explorada para conter a poluição que envolve petróleo derramado nos oceanos. “O petróleo é diferente do pentadecano”, afirma Valentine, “e você precisa entender quais são as diferenças e quais compostos realmente constituem o petróleo, para entender como os micróbios do oceano vão responder a ele”.
A cianobactéria analisada no estudo, em particular, não se mostrou eficiente na limpeza de óleo no mar. Mas os pesquisadores acreditam que outros tipos podem ser capazes de decompor produtos petrolíferos complexos – especialmente os que tendem a viver em maior abundância perto de vazamentos naturais de óleo.
“Os microrganismos que analisamos respondem por impressionantes 40% da superfície da Terra. Mas, ignorando os continentes, ainda sobra 30% do planeta para explorar outros ciclos de biohidrocarbonetos”, avalia Valentine. Para o pesquisador, a produção de hidrocarbonetos biológicos também é um avanço nos esforços para desenvolver a próxima geração de energia verde.
Fonte: Olhar Digital