A geologia estabelece que a Terra é formada pela crosta, manto, núcleo externo e interno, mas é possível que essa lista esteja receba mais um item: um novo estudo, feito por pesquisadores da Australian National University (ANU), sugere nosso planeta conta com uma quinta camada, que esteve sob nossos pés o tempo inteiro sem que soubéssemos de sua existência. Segundo os pesquisadores, essa camada ficaria no núcleo mais interno e pode ajudar os cientistas a entender melhor a história da Terra e sua evolução.
A Terra se formou há aproximadamente 4,6 bilhões de anos a partir da colisão de elementos pesados, que deram origem ao interior do nosso planeta. O núcleo, que fica no centro, é formado por duas camadas: a mais externa é de ferro derretido e tem mais de 2 mil km de espessura, enquanto a interna, com cerca de 1.200 km, é responsável pelo campo magnético terrestre. Depois, vem o manto, uma camada de quase 3 mil km de espessura que fica sobre o núcleo e é composta por rochas ricas em ferro e magnésio. Por fim, existe a crosta, a camada mais fina e externa, que pode chegar a 70 km.
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Assim, no estudo, a descoberta foi feita com a ajuda de um algoritmo especial de busca, que foi usado pelos pesquisadores para comparar milhares modelos do núcleo mais interno com dados coletados durante décadas sobre o comportamento que as ondas sísmicas apresentam ao viajar através da Terra. Essas informações foram obtidas por estações sismográficas em todo o mundo, e ajudaram a identificar mudanças na estrutura do ferro do núcleo mais interno, o que contribuiu para a confirmação de que o núcleo interno tem outra camada.
Embora os cientistas já suspeitavam que o núcleo interno tinha duas camadas, foi com o estudo dos pesquisadores da ANU que eles investigaram melhor o que havia abaixo desta parte do núcleo. O estudo revelou uma grande mudança na estrutura do ferro no interior do núcleo interno, a quase 6 mil km abaixo da superfície. Embora o núcleo interno seja composto por ferro sólido, existem algumas mudanças estruturais significativas nessa região, que diferenciam a camada mais interna do resto do núcleo.
Joanne Stephenson, principal autora do estudo, diz que o resultado confirmou que essa mudança fica a aproximadamente 650 km no núcleo interno, e o que torna o estudo único foi o tratamento da incerteza e os métodos usados: “queríamos garantir que o que vimos no núcleo mais interno era definitivamente uma mudança, e não ruído em meio aos dados”. Segundo ela, foi extremamente difícil definir como essa camada seria, e é possível que haja mudanças na forma do ferro no interior do núcleo interno.
A descoberta levou os pesquisadores a acreditar que a mudança na estrutura pode ter sido causada por um evento desconhecido e dramático, que teria ocorrido no início da história da Terra: “os detalhes desse grande evento ainda são um mistério, mas adicionamos uma nova peça no quebra-cabeças do conhecimento do núcleo da Terra”, completa ela. Embora o trabalho ainda esteja passando por análises, a descoberta de uma nova camada poderá abrir o caminho para novos princípios geológicos: “é muito empolgante, e talvez isso signifique que vamos precisar reescrever os livros didáticos”, finaliza.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Journal of Geophysical Research: Solid Earth.
Fonte: Canaltech