Reentrada de satélites na atmosfera pode ampliar problema da camada de ozônio

A reentrada das constelações de satélites na atmosfera, quando estes perdem sua vida útil, pode aumentar o problema da camada de ozônio – um efeito que cientistas da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, vêm se referindo como “ozônio 2.0”.

Segundo uma pesquisa assinada por Aaron Boley, professor associado de astronomia e astrofísica da instituição, o nosso conhecimento dos efeitos de reentrada de satélites e outros artefatos humanos na camada de ozônio diferem daqueles causados, por exemplo, por corpos celestes naturais, de uma forma que ainda não conhecemos.

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Satélites como os da Starlink podem causar problemas quando perderem suas utilidades e caírem de volta à Terra. Imagem: AleksandrMorrisovich/Shutterstock

“Nós temos cerca de 60 toneladas de material meteoróide nos atingindo todo dia”, disse Boley ao Science.com. “Com a primeira geração da Starlink [a constelação que oferece internet via satélite da SpaceX], podemos esperar mais de duas toneladas de satélites mortos entrando na atmosfera todo dia. Mas enquanto os meteoróides são majoritariamente pedras – feitas de oxigênio, magnésio e silício, estes satélites são praticamente feitos de alumínio, um elemento que os meteoróides têm em apenas 1% [de sua composição]”.

O problema com isso é que a queima de alumínio gera óxido de alumínio – também conhecido como “alumina” -, que pode desencadear efeitos ainda desconhecidos por nós: “A alumina reflete a luz em certas ondas e, se você despejar demais dela na atmosfera, você acabará criando um efeito de pulverização que eventualmente mudará o albedo do planeta”, disse Boley.

“Albedo” é o coeficiente de reflexão de luz, calculado por uma fórmula bastante específica, que serve para medir o volume de luz que é refletida de um determinado material. No passado, foi sugerido que aumentar o índice de albedo da Terra seria uma solução para desacelerar o aquecimento global. Especialistas, porém, descartaram a tese, ressaltando que quase não há conhecimento sobre os efeitos colaterais de tal ação.

“Agora” – diz Boley – “parece até que vamos conduzir esse experimento sem nenhuma regulamentação ou fiscalização. Nós não sabemos qual é o limite, ou como isso vai mudar a atmosfera”.

Um dos efeitos que nós conhecemos, porém, é a nocividade da alumina na camada de ozônio que permeia a atmosfera da Terra. Um problema conhecido há décadas é o fato de que buracos na camada deixam passar raios ultravioleta do Sol sem nenhum tipo de filtro – o que pode causar problemas graves para os humanos, como o câncer de pele.

Em seu estudo, Boley e sua equipe citam outra pesquisa, conduzida pela Aerospace Corporation, que identificou danos localizados à camada de ozônio, decorrentes da passagem de foguetes pela atmosfera: “Nós sabemos que a alumina promove o esgotamento do ozônio apenas com o lançamento de foguetes – muito do combustível usado por eles tem alumina ou a produz como derivativo”, indicou Boley. “Isso vai criando ‘buracos temporários’ na camada de ozônio”.

Segundo especialistas, materiais meteoróides e satélites, durante a reentrada, queimam a uma altura entre 90 e 50 quilômetros (km). Por si, isso já seria suficiente para atingir a camada de ozônio (localizada majoritariamente na estratosfera, entre 10 e 60 km da Terra), mas mesmo quando isso não acontece, ainda há o risco de partículas e outros dejetos que se destacam da queima causada pela reentrada caírem na região.

Segundo Boley, esse efeito pode causar reações químicas adversas, desencadeando a destruição do ozônio.

Com empresas como a SpaceX, Blue Origin e tantas outras lançando foguetes, satélites e outros objetos no espaço, as preocupações dos especialistas parecem encontrar fundamento plausível, adicionando mais um tema ao longo debate da “poluição espacial”. Por ora, porém, essa corrida por parte das empresas não tem previsão de acabar: só em 2021, a SpaceX já tem pelo menos quatro lançamentos confirmados, enquanto Jeff Bezos, o CEO da Blue Origin, pretende viajar – ele próprio – ao espaço em julho.

Fonte: Olhar Digital