Perda de habitat, atropelamentos em rodovias e caça ilegal são algumas das ameaças que as antas enfrentam no Brasil. Sob risco de extinção, esses que são os maiores mamíferos terrestres da América do Sul ganharam um novo inimigo nos últimos anos: os agrotóxicos.
Especificamente no Cerrado do Mato Grosso do Sul, os indivíduos da espécie Tapirus terrestris estão sendo contaminados com aldicarbe (popularmente conhecido como “chumbinho”), diazinon, malathion, mevinphos, entre outras substâncias relacionadas a pesticidas.
O diagnóstico é de uma pesquisa realizada entre 2015 e 2017 pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), e publicada no periódico Wildlife Research em fevereiro de 2021.
De todas as antas avaliadas, 41% testaram positivo para produtos químicos. A alta prevalência de aldicarbe no conteúdo estomacal dos animais foi um resultado que chamou a atenção dos pesquisadores. Isso porque o “chumbinho” tem alto potencial toxicológico e, em decorrência dessa característica, foi banido em 2012 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para qualquer finalidade.
O artigo pontua também que alguns índices de agrotóxicos encontrados em tecidos, órgãos e sangue das antas ultrapassam os limites permitidos de ingestão, o que pode fazer com que elas fiquem mais vulneráveis a doenças e infecções.
“Isso pode desencadear processos fisiológicos com implicações importantes para a saúde dos animais afetados, particularmente nas respostas endócrinas, neurológicas e reprodutivas”, observa Patrícia Medici, coordenadora da Incab e uma das autoras do trabalho, em nota.
A detecção de substâncias nocivas comprova que as antas estão expostas a pesticidas no ambiente em que habitam e são prejudicadas por interação direta com plantas, solo e água. A análise estomacal que mostrou a presença de aldicarbe, por exemplo, sugere que o contato com a substância é consequência do consumo de plantas contaminadas pela aplicação do agrotóxico em campos agrícolas por meio da pulverização — uma das técnicas mais empregadas no estado.
Na área estudada pela Incab, plantios de cana-de-açúcar ocupam aproximadamente 2,2 mil quilômetros quadrados nos municípios de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina. “É como se as antas se alimentassem de veneno um pouco a cada dia, abastecendo uma bomba-relógio em seu próprio corpo”, afirma Medici.
Frente às atividades da agricultura em grande escala, os pesquisadores demonstram preocupação com a sobrevivência desses mamíferos no Cerrado sul-mato-grossense a médio prazo. “É inadmissível a utilização de agrotóxicos sem critérios ou fiscalização”, avalia Medici. “Precisamos olhar com mais seriedade para essa questão que afeta os animais silvestres e as vidas humanas”, conclui.
Fonte: Galileu