Como cães de busca e resgate encontram sobreviventes

De raças e comportamentos variados, os cães de resgate podem procurar por odores humanos ou seguir o rastro das pessoas.

Grande boiadeiro suíço é fotografado em Choussy, na França. Às vezes, cães desta raça são treinados para trabalhos de busca e resgate.
FOTO DE JOEL SARTORE, NATIONAL GEOGRAPHIC PHOTO ARK

Durante as operações de resgate no local onde um prédio de 12 andares desabou, nos arredores de Miami, nos EUA, cães de busca e resgate ajudam a procurar por sobreviventes.

Os cães farejam à procura de sinais de respiração humana, contou Sinead Imbaro, treinadora de cães policiais e militares, ao canal de notícias NewsNation. Se eles encontram alguém, latem para alertar a equipe de resgate.

Nas primeiras horas da manhã do dia 24 de junho, logo após o colapso na cidade de Surfside, “colocamos cães para procurar por sobreviventes nos escombros”, declarou o prefeito Charles Burkett. “Mas estava escuro e perigoso, e eles não encontraram nada.”

Treinar cachorros para missões como essa é um processo longo, difícil e caro. Geralmente, leva de um ano e meio a dois anos para que um cão e seu treinador fiquem “prontos para uma missão”.

O resultado vale a pena: esses cães ajudam a salvar vidas.

Brincadeira de procura

Cães de resgate podem ser de uma ampla variedade de raças e são treinados para apresentar diversos comportamentos. Alguns cães procuram odores humanos — como hálito ou odor corporal — dentro de uma área específica. Já outros, como os tradicionais cães de “rastreamento”, que seguem o rastro de uma pessoa desaparecida através do cheiro dela. Alguns até trabalharam em barcos, ajudando a localizar restos humanos na água.

Os cães são treinados para acharem que a busca é totalmente uma brincadeira, com recompensas adequadas. Mas essa brincadeira é desafiadora. “Para detectar pessoas”, explicou a treinadora Bev Peabody, “às vezes os treinamos usando apenas um dente humano”.

Peabody é uma das fundadoras da California Rescue Dog Association, Inc. A organização, totalmente voluntária, possui o maior grupo de cães de busca do país. O reforço positivo, explicou Peabody, é a chave para manter os cães entusiasmados com a busca.

“Geralmente, após fazermos uma busca na qual eles não foram bem-sucedidos, na próxima vez em que forem treinados, a busca poderá durar apenas dez minutos”, ela acrescenta. “Então, nós celebramos e os elogiamos, e os cães ficam animados.”

Essa técnica de treinamento também é utilizada em campo. Se um cão passa um dia inteiro procurando e não consegue encontrar nada, o treinador pode “esconder” alguém e permitir que o cão rastreie e encontre essa pessoa em minutos, fazendo com que ele termine o dia com uma descoberta e ganhe as recompensas merecidas.

Por serem animais de estimação de seus treinadores, os cães de resgate apresentam os mesmos tipos de emoções e personalidades que outros cães. “Após uma descoberta”, observou Peabody, “nós verificamos a condição física e emocional da pessoa, enquanto o cachorro brinca de cabo de guerra ou recebe seu brinquedo favorito”.

Cães de resgate costumam receber elogios de seus proprietários e das pessoas que eles encontraram. “As pessoas abraçam os cães para expressar gratidão”, disse Peabody, “e assim eles sabem que fizeram um bom trabalho. É uma brincadeira para eles, mas algo sério para nós”.

Gratidão familiar

A reação a uma busca bem-sucedida é emocionalmente mais difícil quando a descoberta são restos mortais em vez de um sobrevivente. “Tudo é uma brincadeira para o cão, mesmo que tenha ocorrido um acidente de barco onde uma pessoa se afogou”, explicou Peabody. “Não ficamos tão entusiasmados, mas mesmo assim eles recebem suas recompensas, elogios e incentivos.”

Os familiares que estão presentes quando os restos mortais de uma pessoa são encontrados geralmente formam um vínculo com o cão de busca, ela acrescenta. “Quase todas as vezes eles se aproximam e dizem: ‘gostaria de fazer carinho nele, agradecê-lo e dizer-lhe que ele é um bom cão por encontrar meu ente querido’. Todo mundo se emociona”, disse Peabody, “mas isso faz parte do encerramento, porque não ter respostas é ruim”.

Felizmente, muitas buscas caninas têm finais felizes. “O acontecimento que impulsionou o trabalho de cães em desastres foi o terremoto na Cidade do México”, lembrou Peabody. “Fiquei cinco dias lá e os cães encontraram oito pessoas vivas nos escombros. Os cães emitiram sinais de alerta em um estacionamento que havia desabado e, quando as vítimas foram encontradas, eram um avô e um neto dentro de um fusca — vivos.” Os mexicanos demonstraram gratidão enchendo os cães de guloseimas. “Eles teriam ganho uns 14 quilos se nós tivéssemos permitido que eles comessem tudo”, lembra Peabody.

Após o intenso terremoto, a demanda por equipes de resgate com cães para auxiliar na busca de vítimas de desastres e acidentes disparou nos Estados Unidos. Shirley Hammond e seu Doberman pinscher chamado Sunny trabalham com a Agência Federal de Gestão de Emergências dos Estados Unidos. Quando as autoridades federais declaram desastre em uma área, equipes como Shirley e Sunny às vezes são chamadas para ajudar. Eles foram convocados para irem até Nova York após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, no World Trade Center.

“Nós localizamos o corpo de um bombeiro, e foi uma busca dramática para o cachorro”, contou Hammond. “Na teoria, Sunny é um cão de busca de pessoas, mas como não havia vítimas vivas na área, ele deu um passo à frente e passou a localizar restos mortais.”

Como cães de resgate são treinados para receberem reforço positivo e recompensas após uma busca bem-sucedida, equilibrar as emoções ao trabalhar em locais de desastre é um desafio, disse Hammond. “Quando treinadores dizem que seus cães estão deprimidos, são eles mesmos que estão transmitindo isso para os cães — diretamente pela coleira”, ela explicou.

No entanto, durante a horrível situação no Marco Zero do desastre de 11 de setembro, foi Sunny e outros cães de resgate que estimularam muitos trabalhadores.

“Sunny é um doberman macho de aproximadamente 43 quilos”, disse Hammond. “As pessoas não chegaram perto dele na primeira vez em que o viram nos escombros. Mas ele se tornou uma espécie de ícone, e seu trabalho foi quase tão importante como cão de terapia quanto como cão de busca. As pessoas vinham até mim e diziam: ‘ouvi dizer que esse é o Sunny. Posso pegá-lo?’ Então, eles o agradavam, e ele se encostava neles. As pessoas simplesmente precisavam do alento desses seres quentinhos e peludos, e os cães de busca proporcionavam isso.”

Fonte: National Geographic Brasil