Nos seis primeiros meses de 2021, o volume de água registrado no Sistema Cantareira acendeu um alerta aos especialistas: em todos eles, o nível ficou abaixo da média histórica, fato inédito desde 2003 e ainda pior do que o observado no período pré-crise hídrica, em 2013. Foi o que revelou o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) nesta quarta-feira (14) em comunicado enviado à imprensa.
Responsável por abastecer cerca de 7,6 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, Campinas e Piracicaba, o Sistema Cantareira contava com 43,8% do volume em 10 de julho, cerca de 10% a menos em comparação à mesma data em 2013. “Quando observamos o primeiro semestre de 2021, o cenário segue preocupante: registramos 587,9 mm de chuva, o equivalente a 68% do previsto para o período”, diz Alexandre Uezu, coordenador do Projeto Semeando Água, do IPÊ. A chuva registrada em junho — de 26,1mm —, por exemplo, foi menos da metade do que era esperado no mês, que tem média histórica de 57,1mm.
O ano de 2020 também já não havia trazido bons números. “No acumulado dos últimos 12 meses, estamos 468 mm abaixo da média histórica. Se ampliamos o período da análise para os últimos 18 anos, encontramos algo próximo apenas em 2014, período de crise hídrica”, alerta Uezu. Segundo o pesquisador, teremos ainda pelo menos mais três meses de seca na região, até setembro, com a esperança de que a temporada de chuvas chegue em outubro. Mas isso não aconteceu em 2020.
A expectativa não era boa desde maio de 2021, quando o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu um Alerta de Emergência Hídrica para a região Sudeste até setembro deste ano. A nota foi assinada por alguns órgãos de pesquisa, como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que olharam com cautela para o cenário de escassez de chuvas na Bacia do Paraná, que engloba os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
Uma das medidas prioritárias para ampliar o potencial hídrico do reservatório está relacionada à permeabilidade do solo na região, considerada baixa devido às muitas áreas desmatadas, segundo o Atlas do Sistema Cantareira elaborado pelo IPÊ. “O melhor lugar para armazenar água da chuva é no solo, já que assim a água é liberada aos poucos, em especial nos períodos de estiagem. Mas, para isso, a água precisa ter tido a condição de infiltrar”, explica Uezu.
O instituto já plantou 370 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica na região e tem como plano aumentar o número para 35 milhões nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) próximas a nascentes e cursos d’água.
O uso do solo é outro fator importante para a segurança hídrica do Cantareira. Segundo informações do Atlas, aproximadamente 100 mil hectares precisam ser regenerados, seja com pastagem ecológica, silvicultura de nativas ou através de um turismo sustentável, previsto no Plano de Manejo das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Sistema Cantareira e Represa Bairro da Usina, que foi aprovado pelo governo estadual em outubro de 2020.
Fonte: Galileu