Quando uma equipe de pesquisadores da Suíça se reuniu para investigar como a presença dos lagos glaciais nos Alpes Suíços se alterou ao longo dos últimos 170 anos, eles esperavam encontrar apenas algumas centenas desses corpos de água restantes. Mas o grupo descobriu que, dos 1.192 lagos glaciais formados desde 1850 na região, 987 ainda existiam em 2016. E mais: 180 deles surgiram somente nos últimos dez anos.
Os resultados, publicados no periódico científico Earth Surface Processes and Landforms no último dia 6 de julho, mostram como o derretimento acelerado das geleiras alterou drasticamente a paisagem montanhosa dos Alpes Suíços como resultado visível das mudanças climáticas.
“Por um lado, ficamos surpresos com os números absolutos e, por outro, com a acentuada aceleração da formação”, recorda, em comunicado, Daniel Odermatt, chefe do Grupo de Sensoriamento Remoto do Instituto de Pesquisa Aquática Eawag. “No início do projeto, esperávamos algumas centenas de lagos glaciais. Agora são mais de mil”, diz o cientista e coautor da investigação.
O estudo, descrito pelos autores como “um dos inventários mais completos de lagos glaciais no espaço e no tempo desde o LIA [sigla em inglês para a Pequena Idade do Gelo]”, também contou com a participação de pesquisadores de outras três instituições suíças: a Universidade de Zurique, o Escritório Federal para o Meio Ambiente da Suíça e a Cooperativa Nacional para o Descarte de Resíduos Radioativos (Nagra), além da austríaca ENVEO (Tecnologia de Informação de Observação Ambiental da Terra GmbH).
A construção da base de dados só foi possível devido à disponibilidade de imagens áreas de alta qualidade que datam de antes de 1990 — o que, reconhecem os pesquisadores no documento, não é o padrão na maior parte do planeta, especialmente em países maiores e em desenvolvimento.
Com informações que datavam desde o século 19, os cientistas conseguiram registrar localização, elevação, forma, área, tipo de material da barragem e drenagem superficial em diferentes momentos de cada um dos quase 1.200 lagos glaciais formados a partir do derretimento de geleiras desde 1850 na região.
De acordo com o estudo, a formação de lagos glaciais atingiu um pico inicial entre 1946 e 1973, quando uma média de quase oito lagos surgiam anualmente na região. Uma queda foi observada no final do século 20, mas o intervalo entre 2006 e 2016 conseguiu substituir o recorde anterior: em média, 18 novos lagos surgiram a cada ano nesse período e a superfície da água aumentou mais de 150 mil metros quadrados anualmente.
Em 2016, a área coberta pelos lagos glaciais suíços correspondia a 620 hectares. Enquanto o maior lago media 40 hectares, mais de 90% dos corpos de água eram menores do que 1 hectare. Os dados mostram ainda que 187 lagoas glaciais desapareceram completamente ou pelo menos encolheram para menos de 200 metros quadrados nos últimos 170 anos, porque foram lentamente sendo cobertas por sedimentos transportados pelas geleiras ou romperam.
Segundo o estudo, esses dados permitem a máxima precisão e integridade para detectar o potencial de risco individual dos lagos. Os pesquisadores consideram que uma questão importante a saber com antecedência é onde podem surgir novos lagos glaciais e o volume de água que eles podem conter. Em uma segunda etapa, também sugerem que seria benéfico estimar com segurança a vida útil desses lagos.
“Por um lado, o número crescente de lagos glaciais aumenta o risco de erupções repentinas e, portanto, o perigo de ondas de inundação para os assentamentos localizados abaixo deles”, avalia Odermatt. “Por outro lado, os fenômenos naturais oferecem atrativos turísticos impressionantes e a ampliação artificial dos lagos abre novas oportunidades para a energia hidrelétrica”.
O grupo também acredita que uma abordagem de monitoramento regular, ainda escassa na Suíça, pode ajudar na detecção precoce de perigos relacionados aos lagos glaciais. “O grande número de lagos e sua localização em um contexto topográfico frequentemente instável e íngreme mostram a necessidade de uma análise mais profunda de seu potencial de risco”, escrevem no documento.
Fonte: Galileu