A Unesco, o braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para educação e cultura, declarou 33 novos locais como patrimônio mundial, sendo 5 deles na América Latina — incluindo o sítio Burle Marx, no Brasil.
O lugar, de 400 mil metros quadrados, em Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, foi comprado pelo paisagista em 1949. Ele viveu na casa, onde pintou quadros e reuniu coleções de artes e plantas. Ao todo, são 3,5 mil espécies.
Burle Marx usava o espaço como ateliê, criando um estilo que influenciou paisagistas ao redor do mundo.
“A Unesco escolheu os locais recém-adicionados por seu significado cultural, histórico ou científico. Com a nova inclusão, o Brasil passa a ter 23 bens inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, registro dos bens considerados como portadores de valor universal excepcional para a cultura da humanidade”, diz a agência da ONU em seu site.
Além do sítio Burle Marx, quatro locais na América Latina também receberam a láurea. São eles: a Igreja de Atlântida (também conhecida como Igreja do Cristo Obrero), no Uruguai; o complexo arqueoastronômico de Chankillo, no Peru, o assentamento e a mumificação artificial da cultura Chinchorro, na região de Arica e Parinacota, no Chile e o Conjunto Franciscano do Mosteiro e a Catedral da Nossa Senhora da Assunção de Tlaxcala, no México.
Confira abaixo mais detalhes sobre cada um deles:
Brasil — Sítio Roberto Burle Marx
O local retrata o projeto de sucesso realizado há mais de 40 anos pelo arquiteto, artista e paisagista Roberto Burle Marx (1909-94), que buscou criar uma “obra de arte viva” e um “laboratório de experimentações botânicas e paisagísticas”, “valendo-se da vegetação nativa e inspirando-se nas ideias do movimento modernista”.
O projeto, iniciado em 1949, é um jardim paisagístico representativo dos elementos essenciais do estilo único de Burle Marx.
O jardim se caracteriza por suas formas sinuosas, pela exuberância de suas extensas plantações, pelo arranjo arquitetônico de sua vegetação, pelo uso de espécies botânicas tropicais e pela incorporação de elementos artísticos típicos do folclore popular.
Este é o primeiro jardim tropical moderno a ser inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco.
Peru — Complexo Arqueoastronômico de Chankillo
Localizado ao norte da costa central do Peru, no Vale do Rio Casma, esse sítio arqueológico (500-200 a.C.) possui um conjunto de construções edificadas em uma paisagem desértica e uma série de características naturais que, juntas, funcionam como um calendário solar perfeito, usando marcadores que permitem observar o movimento do sol ao longo do horizonte por todo o ano.
O local inclui um Templo Fortificado, o Observatório, o Espaço Público Cerimonial e as Treze Torres Cúbicas que sinalizavam a trajetória solar e que estão dispostas em uma fileira que se estende ao longo do topo de outra colina.
Completa a lista a montanha Cerro Mucho Malo, indicador natural complementar das 13 torres.
Acredita-se que o templo era dedicado ao culto ao sol e a presença de um local de observação em cada lado do alinhamento norte-sul das torres permitia determinar os pontos de nascente e poente do sol no horizonte ao longo do ano.
Uruguai — Igreja de Atlântida, obra do engenheiro Eladio Dieste
A Igreja de Atlântida, com seu campanário e seu batistério subterrâneo, está localizada em Estación Atlántida, a 45 km de Montevidéu.
O complexo da igreja, inspirado na arquitetura religiosa cristã primitiva italiana e medieval, foi inaugurado em 1960.
A igreja, de planta retangular com nave única, apresenta paredes onduladas características que suportam uma cobertura igualmente ondulada, constituída por uma sequência de abóbadas gaussianas em tijolo armado desenvolvida por Eladio Dieste (1917-2000).
Como aponta a Unesco, “a igreja constitui um exemplo eminente das notáveis conquistas formais e espaciais da arquitetura moderna na América Latina durante a segunda metade do século 20”.
“E incorpora a busca pela igualdade social com um uso sóbrio dos recursos.”
Chile – Assentamento e mumificação artificial da cultura Chinchorro
A cultura Chinchorro desenvolveu a mumificação 3 mil anos antes do que o Egito.
Localizado na região de Arica e Parinacota, o local é composto por três componentes: Faldeo Norte del Morro de Arica, Colón 10, ambos na cidade de Arica, e Foz de Camarones, em um ambiente rural cerca de 100 km mais ao sul.
Juntos, eles oferecem um testemunho de uma cultura de caçadores-coletores marinhos que residiam na árida e hostil costa norte do Deserto de Atacama, no extremo norte do Chile, de cerca de 5450 a.C. a 890 a.C.
O local é a mais antiga evidência arqueológica conhecida de mumificação artificial de corpos com cemitérios contendo corpos mumificados artificialmente e alguns que foram preservados devido às condições ambientais.
Ali foram encontradas ferramentas feitas com materiais minerais e vegetais, bem como instrumentos simples de osso e concha que permitiram a exploração intensiva dos recursos marinhos.
O local, aponta a Unesco, “constitui um testemunho único da complexa espiritualidade da cultura chinchorro”.
México — mosteiro franciscano e catedral de Nossa Senhora da Assunção de Tlaxcala
O mosteiro franciscano e a catedral de Nossa Senhora da Assunção em Tlaxcala, México.
O complexo é uma extensão do sítio “Primeiros mosteiros do século 16 nas encostas do Popocatepetl”, inscrito na Lista de Patrimônios Mundiais da ONU em 1994.
Foi construído entre 1537 e 1540 após a aliança entre os espanhóis e os tlaxcalanos.
O local inclui o mosteiro e a catedral de Nossa Senhora da Assunção e faz parte do primeiro programa de construção iniciado em 1524 para a evangelização e colonização dos territórios do norte do México.
O complexo é um dos primeiros cinco mosteiros fundados por frades franciscanos, dominicanos e agostinianos, e um dos três que ainda existem.
A extensão, diz a Unesco, “contribui para uma melhor compreensão do desenvolvimento de um novo modelo arquitetônico que influenciou tanto o desenvolvimento urbano quanto as construções monásticas até o século 18”.
Fonte: BBC