Pesquisadores encontraram plástico em órgãos de tartarugas marinhas jovens e filhotes coletadas na Austrália, em regiões costeiras próximas aos oceanos Pacífico e Índico. Os especialistas alertam que o material poluente se tornou uma armadilha evolutiva para os animais com conchas de até 50 centímetros. Os resultados foram publicados no jornal Frontiers in Marine Science nesta segunda-feira (2).
O plástico estava presente no estômago, intestino, cloaca e bexiga das 121 tartarugas de 5 espécies analisadas. Entre elas: tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-marinha-comum (Caretta caretta), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e tartaruga-marinha-australiana (Natator depressus).
A quantidade de material ingerido variou conforme a espécie, sendo que o maior consumo ocorreu em tartarugas-verdes, que engoliram 343 peças de plástico no Oceano Índico e 144 unidades do polímero no Oceano Pacífico. Por outro lado, nenhuma tartaruga-de-pente absorveu resíduo plástico em nenhum dos oceanos.
Outra questão relevante nos resultados foi a localização: na região do Índico, a proporção de tartarugas analisadas que ingeriram plástico foi muito menor do que no Pacífico. Nesse último local, as tartarugas-verdes eram as que tinham maior risco de engolir resíduo plástico (83%); depois delas vinham as tartarugas-comuns (86%) e as tartarugas-marinha-australianas (80%). Já no Oceano Índico, as espécies mais atingidas pelo problema foram as tartarugas-marinha-australianas (28%), seguidas pelas tartarugas-marinhas-comuns (21%) e pelas tartarugas-verdes (9%).
Liderada por pesquisadores da Universidade de Exeter, na Inglaterra, a equipe também descobriu que o tipo de plástico variava conforme a região. “O plástico nas tartarugas do Pacífico era composto principalmente de fragmentos duros, que poderiam vir de uma vasta gama de produtos usados por humanos, enquanto os plásticos do Oceano Índico eram principalmente fibras – possivelmente de cordas ou redes de pesca”, explica Emily Duncan, que coordenou a pesquisa, em comunicado.
Os plásticos mais comuns ingeridos foram o polietileno e o polipropileno, sendo que em filhotes os pedaços tinham de 5 a 10 milímetros. Por serem mais novos, os animais recém-nascidos correm possivelmente maior risco, pois nessa fase de vida eles estão mais propensos ao emaranhamento e ingestão, que causam asfixia, morte por obstrução do trato gastrointestinal, desnutrição e contaminação química.
Com isso, o plástico se tornou uma armadilha evolutiva, ou seja, mudou um habitat que antes era adaptado, trazendo efeitos negativos para a sobrevivência desses répteis. “Ainda não sabemos qual é o impacto da ingestão de plástico sobre as tartarugas jovens, mas qualquer perda nessas fases iniciais da vida pode ter um impacto significativo nos níveis populacionais”, alerta Duncan, em outra nota à imprensa.
“A próxima etapa de nossa pesquisa é descobrir se e como a ingestão de plástico afeta a saúde e a sobrevivência dessas tartarugas. Isso exigirá estreita colaboração com pesquisadores e veterinários em todo o mundo”, finaliza a especialista.
Fonte: Galileu