Como rochas terrestres do século 19 podem ajudar a encontrar água em Marte?

Rochas encontradas na Terra no século 19 podem conter pistas sobre onde encontrar água em Marte, de acordo com uma pesquisa da Universidade Estadual da Pensilvânia (PSU). Trata-se da hematita, um dos minerais mais abundantes na superfície terrestre.

Pesquisadores analisam minerais encontrados no século 19 para saber onde encontrar água em Marte. Imagem: Whitelion61 – Shutterstock

O mineral pode ser encontrado em muitas rochas ígneas, metamórficas e sedimentares diferentes e, devido ao alto teor de ferro, apresenta uma cor vermelha vibrante. 

No entanto, quando Peter J. Heaney, professor do Departamento de Geociências da PSU, e a estudante de doutorado Si Athena Chen analisaram amostras de hematita coletadas no século 19, eles descobriram um segredo aquoso. 

Inicialmente, Chen estava conduzindo experimentos para cristalizar artificialmente a hematita, quando descobriu um composto pobre em ferro. Ela, então, levou suas descobertas para Heaney, que descobriu pesquisadores de meados de 1840 que também relataram descobertas semelhantes, mas cujo trabalho foi rejeitado.

Esses cientistas do século 19 eram Rudolf Hermann e August Breithaupt, que descobriram amostras de hematita pobres em ferro e que continham água. Hermann chamou essa descoberta de “turgita”, em 1844, enquanto Breithaupt chamou o mineral de “hyrdohematita”, em 1847. No entanto, no início dos anos 1900, os mineralogistas que usavam versões primitivas de ferramentas de diagnóstico modernas rejeitaram suas descobertas.

Chen e Heaney coletaram amostras dos estudos originais de Hermann e Breithaupts, que foram armazenados no Smithsonian Institution, junto com cinco da coleção Frederick Augustus Genth da Penn State para reexame. 

Depois de decifrar a composição química das amostras, usando espectroscopia infravermelha, difração de raios-X avançada e outros métodos, Chen descobriu que os minerais não tinham átomos de ferro, mas, em vez disso, moléculas de hidroxila (uma combinação de hidrogênio e oxigênio), o que se traduz em água sendo armazenada no mineral. 

Relação das amostras do século 19 e a busca por água em Marte

Em 2004, no rover Opportunity, da Nasa, descobriu no Planeta Vermelho concreções minerais carinhosamente chamadas de “mirtilos”. 

O Rover Opportunity captou esta imagem de “mirtilos” hematita em Marte. Imagem: Nasa / JPL-Caltech / Cornell / US Geological Survey

Essas rochas arredondadas foram identificadas por um dispositivo de difração de raios-X do rover como hematita. O que o rover não conseguiu fazer foi decifrar o conteúdo de ferro da rocha para estabelecer se era uma hematita anidra (que carece de água) ou uma hidrohematita.

Segundo o site Space.com, os experimentos iniciais de Chen foram para identificar as condições naturais em que os óxidos de ferro são necessários para formar a hematita. 

Ela descobriu que, em temperaturas abaixo de 149 graus Celsius e em um ambiente alcalino aquoso, a hidrohematita se precipita em camadas sedimentares. “Grande parte da superfície de Marte aparentemente se originou quando a superfície estava mais úmida, e óxidos de ferro precipitaram dessa água”, disse Heaney em um comunicado.

Heaney também acredita que a forma dos “mirtilos” também oferece alguns esclarecimentos. “Na Terra, essas estruturas esféricas são hidrohematita, então me parece razoável especular que as pedras vermelhas brilhantes em Marte são hidrohematita”.

O trabalho de Chen e Heaney é detalhado na revista Geology, onde concluem que “a hidrohematita é comum em ocorrências de óxido de ferro em baixa temperatura na Terra e, por extensão, pode inventariar grandes quantidades de água em ambientes planetários aparentemente áridos, como a superfície de Marte”.

Fonte: Olhar Digital