O Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) deu início a uma série de capacitações para que mergulhadores auxiliem no monitoramento e captura do peixe-leão em Fernando de Noronha. Em menos de um mês, três animais dessa espécie invasora e venenosa foram capturados na ilha e acenderam o alerta devido aos riscos para o ecossistema local e seres humanos.
“Foram chamados os funcionários dos operadores de mergulho e os profissionais que trabalham com fotos subaquática, que também são mergulhadores. Na capacitação, repassamos orientações do que deve ser feito ao identificar um peixe-leão”, informou a chefe do ICMBio, Carla Gaitanele.
Esse primeiro treinamento ocorreu na sede do Parque Nacional Marinho, na Vila do Boldró, na noite da quarta-feira (25), e já estão previstos novos grupos para a terça-feira (31) e na quinta-feira (2). A primeira turma contou com 25 pessoas.
Como o peixe-leão suporta profundidades de mais de 100 metros, segundo pesquisadores, a colaboração de mergulhadores autônomos na localização dos espécimes se torna essencial – todos os três localizados neste mês de agosto foram capturados após serem identificados por profissionais de mergulho.
No Brasil foram encontrados ao menos sete indivíduos da espécie, sendo quatro em Noronha. Desse total, três animais foram capturados no mês de agosto e um em dezembro do ano passado.
Segundo os especialistas, esse peixe, que tem nome científico Pterois volitans, é uma ameaça aos humanos e ao meio ambiente. A espécie tem espinhos venenosos com uma toxina que pode causar febre, vermelhidão e até convulsões aos seres humanos.
Além disso, o peixe-leão é um predador que pode consumir espécies endêmicas de Noronha, que só ocorrem nessa região, e causar um desequilíbrio ecológico, apontam os pesquisadores.
A orientação é para que os mergulhadores não coloquem a mão diretamente no peixe, nem deixem que os visitantes toquem. Responsável pelo treinamento, o coordenador de Pesquisa do ICMBio, Ricardo Araújo, reforçou a necessidade de comunicação imediata ao instituto, em caso de localização do animal.
“A pessoa que identificar o peixe-leão deve fotografar, registrar o local e em seguida deve avisar ao ICMBio. Não é orientado coletar o animal por conta dos riscos”, alertou Araújo.
Só os mergulhadores treinados e com equipamentos básicos, como luva, arpão e um recipiente para manter o animal isolado, podem fazer a captura. No entanto, arpões não são autorizados na ilha e dependem de autorização.
Segundo Araújo, está em fase de elaboração um protocolo que vai permitir que as empresas de mergulho tenham a bordo do barco um arpão e um recipiente para armazenar o animal quando for feita a captura.
“No primeiro momento, só operadoras de mergulho vão ser autorizadas a fazer essa captura. Estamos em fase de aquisição de equipamentos para colocar o protocolo em prática”, explicou.
Se um turista identificar o animal, não deve tocar ou chegar chegar próximo. A recomendação é acionar o ICMBio através do e-mail ngi.noronha@icmbio.gov.br ou ligar para (81) 3619.1156.
De onde veio?
A invasão de peixe-leão em Fernando de Noronha deixou ambientalistas e integrantes do ICMBio em alerta. O diretor do Projeto de Conservação Recifal e o doutor em biologia marinha Pedro Pereira afirmou que o peixe-leão não tem um predador natural na ilha e se alimenta rápido de larvas e peixes pequenos.
Ainda não se sabe como esse peixe chegou até o arquipélago. Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é de correntes marinhas terem trazido larvas ou espécimes do peixe-leão do Caribe para Noronha, onde também é considerada uma espécie invasora.
O peixe-leão é natural do Indo-Pacífico e não há certeza de como chegou até o Caribe, apenas hipóteses. “Uma das teorias é de que veio da região da Flórida, depois que um furacão [nos anos 1990] destruiu uma loja de aquários. Mas há quem diga que essa não foi a causa”, disse o doutor em biologia marinha.
Outra teoria é de que diferentes pessoas soltaram exemplares de peixe-leão no mar do Caribe, explicou Pereira. No entanto, não há nada confirmado, bem como não há confirmação de como ao certo eles chegaram a Fernando de Noronha. Também não há certeza de que esses animais estejam se reproduzindo na região, sendo necessários mais estudos, ressaltou o doutor em biologia marinha.
Para ampliar as pesquisas, a comunicação com os mergulhadores autônomos é essencial para que sejam identificados os possíveis locais onde esses peixes estão, bem como comportamento e outros fatos.
Fonte: G1