Após cinco anos de intensa pesquisa, cientistas publicaram o primeiro relatório sobre o estágio de conservação de todas as 58.497 espécies de árvores do mundo. De acordo com o documento, 17.500 delas, ou seja 30%, estão sob risco de extinção. Isso corresponde ao dobro do total de mamíferos, aves, anfíbios e répteis ameaçados no planeta. O estudo aponta ainda que pelo menos 142 árvores já foram extintas.
Disponível no site da organização britânica não governamental Botanic Gardens Conservation International (BGCI), o trabalho teve a contribuição de mais de 60 instituições e 500 especialistas. No relatório intitulado State of the World’s Trees, os pesquisadores apontam que, das 17.500 árvores sob risco, mais de 440 espécies estão à beira da extinção, o que significa que restam apenas 50 espécimes de cada uma na natureza.
Além disso, o documento alerta que uma das principais ameaças à proteção da flora são as ações humanas. Entre os grandes elementos prejudiciais às árvores estão a perda de habitat impulsionada pela agricultura e pelo pasto, a superexploração derivada da extração de madeira e de atividades de colheita e a disseminação de pestes invasoras e doenças.
Em uma perspectiva global, as mudanças climáticas e temperaturas extremas são ameaças emergentes que podem impactar negativamente tanto áreas temperadas como tropicais. Diante desse cenário, os especialistas destacam um risco maior para espécies de florestas nubladas da América Central. Há ainda o aumento do nível do mar, ao qual no mínimo 180 espécies estão sujeitas, como é o caso das magnólias no Caribe.
“Essa avaliação deixa claro que as árvores estão em perigo”, afirma, em nota, Gerard T. Donnelly, presidente da instituição norte-americana The Morton Arboretum. “Como espécies-chave nos ecossistemas florestais, elas amparam muitas plantas e seres vivos que estão desaparecendo. Salvar uma árvore significa proteger muito mais do que somente as árvores”, explica.
O estudo mostra também que o Brasil é o país com a maior diversidade de flora arbórea (8.847 espécies, das quais 4.226 são endêmicas) e um dos líderes do ranking de espécies ameaçadas de extinção em números absolutos. Com 1.788 (20%) nessa situação, ficamos atrás apenas de Madagascar, onde 1.842 espécies estão sob risco de sumir.
Embora a conjuntura seja preocupante, os pesquisadores observam que os esforços de preservação ao redor do mundo têm crescido. Cerca de 64% de todas as espécies de árvores podem ser encontradas em ao menos uma área protegida, enquanto aproximadamente 30% estão em coleções de jardins botânicos e bancos de sementes. Mas ainda assim há espaço (e necessidade) para mais mobilizações.
“Conservacionistas já sabiam que muitas espécies estavam ameaçadas, e agora temos um plano para agir com prioridades claras e ferramentas valiosas para debater com elaboradores de políticas públicas”, declara Murphy Westwood, vice-presidente para Ciência e Conservação da The Morton Arboretum. “Não podemos perder de vista o impacto que instituições botânicas são capazes de ter a partir de um empenho global e coordenado”, defende.
Os colaboradores do projeto acreditam que, somada ao relatório State of the World’s Trees, a base de dados online GlobalTree Portal irá contribuir para fomentar o desenvolvimento de medidas em prol do meio ambiente. Tanto a pesquisa como a plataforma revelam, pela primeira vez, as árvores que precisam de maior cuidado, os locais onde as ações são mais urgentes e quais lacunas de conservação devem ser preenchidas.
E, além de envolver especialistas e políticos, esse é um assunto que inclui todos os cidadãos. “Indivíduos e organizações da comunidade podem apoiar o plantio de espécies nativas e ameaçadas nos seus arboretos ou jardins botânicos regionais”, sugere Westwood. “Ou então as pessoas podem simplesmente plantar as árvores certas nos lugares adequados com o cuidado necessário para que elas prosperem por muitos anos. Salvar árvores é um esforço global que requer ações locais”, finaliza.
Fonte: Galileu