Jane Goodall se une a campanha para plantar um trilhão de árvores até 2030

O projeto Trees for Jane (Árvores para Jane, em tradução livre) apoiará outros projetos existentes, principalmente em países em desenvolvimento, para restabelecer a quantidade de árvores na Terra.

A primatóloga britânica Jane Goodall caminha no museu de ciências CosmoCaixa em Barcelona, na Espanha, em 2018.
FOTO DE ENRIC FONTCUBERTA, EPA-EFE/SHUTTERSTOCK

Jane Goodall, a renomada primatóloga, lançou um projeto chamado Trees for Jane na última terça-feira (21/09). O projeto fará parte da campanha global de combate às mudanças climáticas e planeja plantar um trilhão de árvores até 2030.

Goodall, Exploradora de longa data da National Geographic, explicou que o plantio é apenas uma das atividades do projeto Trees for Jane; há algo ainda mais importante. “O objetivo principal é proteger as florestas existentes, porque as grandes árvores dessas florestas já armazenaram CO2”, explicou a primatóloga em entrevista à National Geographic.

Trees for Jane é uma de muitas campanhas de plantio de árvores que vêm surgindo em todo o mundo com o objetivo de remover gases de efeito estufa da atmosfera. Entre outros projetos, o trabalho de Goodall fará parte das campanhas Trillion Tree e 1t.org, apoiadas pelo Fórum Econômico Mundial em parceria com o Trees for Jane.

Goodall, uma Mensageira da Paz das Nações Unidas, sente uma forte “conexão espiritual” com as árvores, contou em uma conversa por Zoom da casa de sua família, no sul da Inglaterra. “As árvores absorvem dióxido de carbono; elas nos dão oxigênio; elas ajudam na produção de chuva. As árvores são um presente.”

Em A Trillion Trees, um curta-metragem que será lançado na Semana de Ação Climática da ONU, que começou na segunda-feira, Goodall diz que as árvores são “um presente de Deus para a humanidade”. O número de árvores que a Campanha Trillion Trees, 1t.org e Trees for Jane planejam plantar ou preservar é impressionante: 128 árvores para cada ser humano na Terra.

Há uma razão para essa meta, afirmou Goodall. O planeta tem hoje cerca de três trilhões de árvores, mas perde 15 bilhões de árvores por ano, de acordo com um estudo de mapeamento realizado em 2015 e publicado no periódico Nature.

“Eu sei que um trilhão parece um número absurdo”, disse Jeff Horowitz, cofundador do Trees for Jane. “Não estamos declarando com total certeza que teremos sucesso, mas queremos chegar o mais perto possível desse número.”

Apoio a projetos existentes

O projeto Trees for Jane dará assistência a atividades locais de proteção e restauração da biodiversidade do nosso planeta, afirma Horowitz. “Inicialmente, acredito que teremos de 300 a 400 grupos dispostos a ajudar o projeto com plantio de árvores. Com pás prontas e árvores plantadas logo no primeiro dia.”

As doações recebidas pelo projeto Trees for Jane também apoiarão grupos locais que trabalham no combate ao desmatamento, acrescentou Horowitz. E os participantes dos projetos de plantio serão convidados a cuidar das árvores e monitorá-las até que estejam estabelecidas.

A preservação florestal e o plantio de árvores estão entre as soluções climáticas naturais que, juntas, podem representar até um terço da redução de danos necessária até 2030 para “evitar o aquecimento catastrófico”, explicou Susan Cook-Patton, cientista sênior de restauração florestal da ONG The Nature Conservancy. “Nem sempre precisamos plantarárvores. Quando as condições são adequadas, as árvores podem voltar a crescer perfeitamente bem sozinhas custando apenas uma fração do que será gasto nas campanhas.”

Claro, o plantio de árvores não substitui a redução das emissões de combustíveis fósseis, observou Cook-Patton. “A ação mais importante é reduzir as emissões de combustíveis fósseis. No entanto, mesmo reduzindo rapidamente as emissões, ainda seria necessário remover o carbono da atmosfera para evitar um aquecimento global catastrófico. É por isso que as estratégias de remoção de carbono, como o plantio de árvores, ainda são importantes.”

Alguns projetos de plantio de árvores foram criticados por serem ineficazes e contraproducentes. O argumento é que, muitas vezes, não são plantadas espécies nativas, apenas se criam fazendas de árvores, o que não ajuda as florestas. 

A mensagem de Cook-Patton é clara: “Plante as árvores certas, nos lugares certos, da maneira certa.” Isso significa plantar árvores nativas onde elas já viveram naturalmente. Goodall afirmou que isso está em completa harmonia com a missão do projeto Trees for Jane.

Na última sexta-feira, a ONU alertou que o mundo não está fazendo o suficiente para conter as emissões causadas pelas mudanças climáticas – e previu um aquecimento “catastrófico” de 2,7 ºC.

Ampliando um movimento

O plantio de árvores como medida de cooperação com o meio ambiente não é um conceito novo. A ideia surgiu na década de 1970, quando a ativista queniana Wangari Muta Maathai fundou o Movimento Cinturão Verde. O grupo organizou mulheres da região para plantar um milhão de árvores como parte de uma campanha mais ampla de restauração ambiental no Quênia. Maathai, a primeira mulher africana a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, mostrou como o plantio de árvores pode melhorar os ecossistemas locais e capacitar as comunidades, dando-lhes novas fontes de renda.

O projeto Trees for Jane busca desenvolver esse modelo e trabalhará com comunidades na África e em outros continentes com países em desenvolvimento. O programa Tacare, na Tanzânia, apoiado pelo Instituto Jane Goodall, trabalha na preservação da floresta de Gombe, onde Goodall estudou chimpanzés. É um dos muitos grupos preparados para trabalhar com o projeto Trees for Jane, revelou Goodall.

O reflorestamento dos centros urbanos também faz parte do plano do projeto Trees for Jane. Isso poderia ajudar a amenizar as altas temperaturas nas cidades, observou Ellie Cohen, CEO do The Climate Center, grupo de ação política com sede na Califórnia. “O plantio de árvores em áreas urbanas com espécies apropriadas pode ter benefícios além do sequestro de carbono, particularmente na atenuação do efeito de ilha de calor”, ressaltou a primatóloga.

“Diversos estudos mostraram que bairros mais pobres têm um volume menor de vegetação. Portanto, o plantio de árvores nessas áreas pode ser essencial para a sobrevivência de nossas comunidades.”

Relembrando que o projeto Trees for Jane incentiva as pessoas a plantar árvores ou doar em apoio a campanhas globais, Goodall disse que seu amor por árvores remonta à infância. “Lá fora, no jardim, está a Beech”, disse ela sobre a faia que podia ver pela janela da casa onde cresceu e mora atualmente.

“Quando era criança, gostava muito da Beech. Fazia minhas lições de casa lá. Li vários livros lá em cima. Ia até a árvore quando estava triste. Quando eu tinha dez anos, escrevi minha própria versão de um testamento”, contou Goodall. Esse testamento dizia que sua avó, dona da casa, deixaria para Jane sua árvore favorita. “Ela assinou o testamento e deixou a Beech para mim.”

Quase oito décadas depois, Goodall está trabalhando incansavelmente em prol do bem do planeta, compartilhando a dádiva das árvores com o mundo inteiro.

Fonte: National Geographic Brasil