A transformação da Amazônia em um bioma parecido com a savana africana – processo chamado de savanização – pode ter sérios impactos não só na fauna e na flora como também na saúde humana. Um estudo brasileiro inédito, publicado nesta sexta-feira (1) no jornal científico Communications Earth & Environment, aponta que o fenômeno aumentará a exposição ao calor extremo, atingindo 16% dos municípios do país.
Da população impactada, 42% residem na região Norte, onde mais de 12 milhões de vidas serão ameaçadas pelo estresse térmico até 2100, segundo estima a pesquisa. O trabalho foi comandando por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP).
Os cientistas citam como fatores atrelados à savanização da Amazônia o aumento do número de incêndios florestais, bem como a expansão de áreas agrícolas e atividades de mineração. Segundo eles, tais processos impulsionam a urbanização não planejada, a falta de infraestrutura sanitária básica e o trabalho informal.
O estudo ressalta ainda que serão ultrapassados os limites de adaptação fisiológica do corpo humano ao calor. Isso afetará principalmente áreas onde moram populações altamente vulneráveis, agravando a precarização das condições de vida e gerando migrações em massa.
A exposição a temperatura e umidade intensas enfraquece a capacidade de resfriamento do nosso organismo, causando desidratação e exaustão; em casos mais graves, provoca tensão e colapso das funções vitais, levando à morte. Além de aspectos físico, a situação poderá afetar também em termos psicológicos, ao alterar o humor das pessoas e gerar distúrbios mentais.
Outro problema é que o estresse térmico irá impactar a economia, diminuindo a produtividade do trabalho, com a mão-de-obra sendo exposta ao calor fatal. Um aumento de 1,5°C na temperatura média do planeta, segundo as projeções dos pesquisadores, poderá representar 0,84% das perdas de jornada de trabalho até 2030. Isso é o mesmo que descartar 850 mil empregos de tempo integral, principalmente no setor agrícola e de construção civil.
Diante desse cenário, os autores do estudo reforçam a importância de medidas coordenadas para resgurdar as populações atingidas pela savanização. “Nessas áreas, o setor de saúde poderia ser um importante motivador na formulação de políticas integrativas para mitigar o risco de estresse térmico e a redução da vulnerabilidade social”, sugere Beatriz Oliveira, pesquisadora da Fiocruz Piauí, em comunicado.
Fonte: Galileu