Rachadura é detectada em área de gelo até então preservada no Ártico

Fenda de 3 mil km² se formou em região conhecida como “Última Área de Gelo” e reflete os impactos das mudanças climáticas que afetam o planeta

Fenda de gelo de 3 ml quilômetros avistada em maio de 2020 no norte da ilha de Ellesmere, no Canadá (Foto: NASA EOSDIS Worldview)

Uma fenda gigantesca de 3 mil km² se formou na chamada “Última Área de Gelo” do Ártico, localizada no norte da Groenlândia e da Ilha Ellesmere, no Canadá. Conhecida como polínia, a abertura é sinal das mudanças climáticas que estão afetando a região, segundo registraram cientistas em agosto na revista Geophysical Research Letters.

A rachadura é a primeira a ser identificada na ilha canadense e afeta uma plataforma congelada que se estende por 1 milhão de km². A fenda em questão se abriu durante um período de duas semanas em maio de 2020.

O fenômenos é considerado bastante incomum para o lugar onde está. “Ninguém tinha visto uma polínia nessa área antes. Ao norte da Ilha Ellesmere, é difícil mover o gelo ou derretê-lo só porque é espesso e há bastante gelo (…)”, explica Kent Moore, pesquisador da Universidade de Toronto-Mississauga e principal autor do estudo, em comunicado.

Para saber mais sobre a polínia, os cientistas analisaram décadas de imagens de gelo marinho e dados atmosféricos. Com isso, descobriram que formações do tipo já haviam ocorrido por lá ao menos duas vezes antes, em 2004 e 1988, ainda que as ocorrências não tivessem sido registradas.

Região onde polínia se abriu no Ártico em maio de 2020 (Foto: NASA EOSDIS Worldview )

Ao que indicou o estudo, a polínia recém-detectada se originou durante condições extremas de vento em um anticiclone persistente, isto é, uma tempestade de alta pressão com ventos fortes que giram no sentido horário. O problema é que o gelo do Ártico está ficando a cada ano mais fino, o que exige menos força para formar as polínias, que se tornam mais frequentes ou ainda maiores do que no passado.

Como resultado, mais gelo é perdido e o aumento das temperaturas globais dificulta que essas camadas congeladas sejam substituídas. Mas a situação só piora considerando que as polínias costumam se formar nos mesmos locais ano após ano, e normalmente perto da costa marinha, onde a paisagem canaliza os ventos.

Por outro lado, essas fendas não são necessariamente ruins para o ecossistema ao longo do tempo. O gelo coberto por neve não deixa luz entrar na água abaixo dele, o que limita o processo de fotossíntese por lá e atrapalha a cadeia alimentar. Quando a camada congelada sofre um rompimento e águia fica livre, e há uma retomada no ecossistema.

“Quando você chega a uma área de água aberta, de repente, todos os tipos de atividade podem ocorrer. As aves marinhas vão lá para se alimentar, assim como os ursos polares e as focas. São regiões incrivelmente produtivas”, observa Moore.

Ainda assim, as vantagens das polínias não superam seus danos irreversíveis no gelo marinho. “(…) À medida que o gelo derrete e se desloca para o mar e espécies como morsas e aves marinhas perdem o acesso a ele, perdemos esse benefício. E, eventualmente, fica tão quente que as espécies não podem sobreviver”, alerta o cientista.

Fonte: Galileu