A Terra se inclinou há 84 milhões de anos — e sabemos disso graças a bactérias

NASA

Nosso planeta não experimenta apenas oscilação nos polos magnéticos, mas há evidências de que os polos geográficos também foram alterados ao longo das eras. Isso mesmo: o globo terrestre, por algum motivo, girou em um ângulo de 12 graus, só para mais tarde voltar, somando um total de 25 graus de inclinação ao longo de 5 milhões de anos. Ao menos é o que indica um novo estudo, que usou fósseis de bactérias para a descoberta.

Esse fenômeno de inclinação planetária é conhecido como hipótese do deslocamento polar, uma conjectura que descreve uma inclinação, ou precessão, da Terra em um determinado período. Há muito estudo sobre o assunto, incluindo pesquisas a respeito da chamada deriva polar verdadeira que levam a debates intensos sobre quando, como e com que frequência nosso planeta já teve seus polos geográficos alterados.

A deriva polar verdadeira não pode ser confundida, no entanto, com outros fenômenos como o movimento das placas tectônicas ou dos polos magnéticos. As propostas iniciais, escritas por Charles Hapgood antes da teoria sobre as placas tectônicas fosse desenvolvida, era de que a Terra sofreu vários deslocamentos rápidos das suas camadas, cada um demorando cerca de 5.000 anos, seguido de períodos de 20.000 a 30.000 anos sem movimentos polares.

(Imagem: Reprodução/Phys.org)

Hoje, embora os cálculos de Hapgood não tenham se sustentado ante evidências, a deriva polar verdadeira foi estabelecida cientificamente como um fenômeno que ocorreu por várias vezes no passado, mas a taxas de 1 grau por milhão de anos, aproximadamente. Entre os possíveis fatores que causam esse movimento, estão alterações na distribuição de massas na superfície e no manto da Terra. Mas, como dito antes, os debates sobre os números são muitos.

Pois bem, o novo estudo foi atrás de novas pistas em pedras da Itália, na cordilheira dos Apeninos, onde há fósseis de bactérias que contém o mineral magnetita, o mais magnético de todos os elementos da Terra. Isso é importante porque materiais magnéticos são muito bons em “registrar” coisas como a orientação dos polos magnéticos do planeta, e há uma área da ciência para estudar isso: paleomagnetismo.

As bactérias fossilizadas “disseram” à equipe internacional de cientistas que há 84 milhões de anos, no período do Cretáceo Superior, todo o manto e a crosta giravam em torno do núcleo externo (líquido) da Terra, como se estivesse à deriva sobre um fluido. Se pudéssemos ver a Terra do espaço com um efeito de timelapse acelerando os milhões de anos em poucos minutos, pareceria que o planeta tombou de lado, e então, voltou, mais ou menos como um “João bobo”.

Se isso estiver correto, os cientistas terão novas pistas sobre as causas da Idade do Gelo, mas, acima de tudo, “desafia a noção de que o eixo de rotação tem sido amplamente estável nos últimos 100 milhões de anos”, escreveram os pesquisadores. O estudo foi publicado na Nature Communications.

Fonte: Canaltech