Cidade no Japão será única com condições de sediar Jogos de Inverno em 2100

Fracasso em diminuir a emissão de gases que intensificam o efeito estufa pode comprometer a segurança de 21 cidades que já receberam os jogos da temporada gelada

A temperatura média de lugares que recebem competições de inverno sobe a cada ano, atletas afirmam já sentir impacto em treinos e torneios (Foto: Uns)

O Comitê Olímpico terá cada vez mais dificuldades em encontrar cidades para realizar os Jogos Olímpicos de Inverno no futuro.  É o que diz um estudo realizado por um time internacional de pesquisadores liderados pela Universidade de Waterloo, no Canadá.

Publicada no jornal Current Issues in Tourism, a pesquisa descobriu que, caso a emissão de gases que intensificam o efeito estufa não seja drasticamente reduzida, dentre as 21 cidades que já sediaram as Olimpíadas de Inverno, apenas Sapporo, no Japão, continuará com as condições climáticas ideias para a realização dos jogos até o final deste século.

Já se a meta de redução de gases do Acordo de Paris for cumprida, o número pode chegar a oito cidades – sendo que seis podem ter condições duvidosas. Foram analisados mais de 100 anos de dados climáticos – de 1920 até os dias atuais –, e projeções das mudanças climáticas daqui 30 e 60 anos, nas décadas de 2050 e 2080. Além disso, os pesquisadores entrevistaram atletas e treinadores de diversos países.

Em comunicado, Daniel Scott, professor de geografia e gerenciamento ambiental, afirmou que o mundo dos esportes de inverno já foi afetado pela mudança climática, que avança em ritmo acelerado. “Atletas com os quais conversamos já sentem na pele o impacto do clima nos seus locais de treino e nas competições, incluindo os Jogos Olímpicos”, acrescenta.

Segundo a pesquisa, 89% dos atletas entrevistados afirmaram perceber que o clima tem afetado as condições necessárias para realizar competições e treinos; e 94% temem que a crise climática irá atrapalhar o futuro do esporte que praticam.

“Queríamos entender, sob a perspectiva desses atletas, em quais condições o clima e a neve devem estar para que as competições sejam seguras e justas, para então determinar quais os locais que ainda poderiam receber os jogos no futuro”, explic Natalie Knowles, ex-atleta de esqui e estudante de PhD, que também participou do estudo.

A temperatura das cidades anfitriãs das Olimpíadas de Inverno crescem constantemente. Segundo a pesquisa, a temperatura média durante o dia ao longo de fevereiro nos lugares que já receberam os jogos era de -0,4ºC entre os anos 1920 e 1950, subindo para 3,1ºC entre 1960 e 1990. Desde então, atingiu 6,3ºC incluindo os jogos de Pequim. E é possível que a temperatura suba entre 2ºC e 4,4ºC ainda neste século.

A pesquisa também levou em consideração as ações de redução de risco que as cidades anfitriãs tomaram em relação ao clima, desde a realização da primeira Olimpíada de Inverno, em Chamonix, na França, há 100 anos. “Existe um limite do que o gerenciamento ambiental pode fazer, e vimos esse limite ser alcançado nos jogos de Vancouver (2010) e Sochi (2014)”, alertou Michelle Rutty, da Faculdade Ambiental de Warterloo.

“Nenhum esporte vai conseguir fugir do impacto das mudanças climáticas”, diz Daniel Scott, ao reforçar a importância do Acordo de Paris para a segurança dos jogos e dos atletas que dependem deles.

Fonte: Galileu