Para um grupo de pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, ainda é possível cumprir o Acordo de Paris e limitar o aquecimento do planeta a 2ºC. Segundo nova pesquisa, publicada no periódico Environmental Research Letters, as previsões de um futuro climático apocalíptico já não são plausíveis.
O estudo analisou diversos cenários climáticos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) e concluiu que os mais alinhados com os últimos dados da Agência Internacional de Energia (IEA) preveem um aumento de entre 2ºC e 3º da temperatura média do planeta até 2050. Enquanto os piores – e mais improváveis – cenários projetam um aumento de 4 a 5ºC até o fim do século.
“São notícias cautelosamente positivas, que consideram a situação climática atual do planeta ao invés do que nós pensávamos que seria”, diz Roger Pielke Jr, professor de estudos ambientais e autor principal do artigo, em comunicado.
Para traçar planos para o possível futuro da Terra, a comunidade científica usa previsões sobre a evolução da mudança climática, desenvolvidas com base em dados sobre a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e o monitoramento de tendências em políticas ambientais.
As projeções mais usadas são os RPCs (ou Via de Concentração Representativa, em português), desenvolvidos pelo IPCC a partir de 2005, que observam a trajetória de concentração de gases de efeito estufa. Outras projeções tratam de mudanças socioeconômicas globais – os SSPs, sigla em inglês para Caminhos Socioeconômicos Compartilhados – produzidos pelo órgão a partir de 2010. Ambos formam a base do Relatório de Avaliação do IPCC, que compila milhares de estudos sobre a mudança climática, suas causas, impacto potencial e possíveis soluções.
Para encontrar as projeções que estariam mais próximas da realidade, Pielke e seus colegas analisaram 1.311 cenários – dos quais a comunidade científica selecionou 11 RCPs e SSPs –, comparando as projeções de emissão de gases causadas pela indústria de combustível fóssil entre 2005 e 2050 com os números registrados entre 2005 e 2020 e projeção da IEA para 2050.
Cerca de 500 estudos analisados foram considerados críveis pelos pesquisadores, chegando a menos de 100 projeções, a depender do método de avaliação. Mesmo com a grande redução de previsões que passaram pelo crivo da pesquisa, cenários mais negativos ainda são possíveis. “Há alguns anos que não atualizamos as previsões do IPCC, por esse motivo algumas projeções não podem ser descartadas”, explica o professor.
Segundo Matthew Burgess, coautor do estudo, a maioria dessas previsões foram feitas há mais de uma década, e não consideram avanços importantes de políticas ambientais e tecnologia, bem como o maior acesso à energia limpa e renovável da atualidade.
Além disso, esses cenários também superestimam o crescimento da economia, principalmente em países emergentes. Tais mudanças são levadas em consideração pelos cenários desenhados pelo IEA, com atualizações anuais, que também serviram de base para o estudo.
Outro fator que contribui para a contínua produção de cenários muito piores do que a realidade pode ser é que, apesar dos SSPs produzidos em 2010 serem uma ferramenta adicional para estudos climáticos, os RCPs de 2005 ainda são amplamente usados pela comunidade científica. Incluindo o RPC8.5 – como é chamado o pior cenário, que prevê a incidência de radiação solar de 8.5 watts por metro quadrado – levando as projeções para um aumento de 4ºC a 5ºC até 2100; “É difícil mensurar o quanto as pesquisas climáticas se basearam nos cenários mais drásticos, como o RPC8.5. Mas eles se tornam menos realistas a cada ano”, diz Burgess.
Depender de previsões baseadas em dados antigos causa um impacto significativo em decidir quais são as melhores ações a tomar em prol do futuro climático do planeta. “É preciso que atualizações sejam feitas com mais frequência. Pesquisadores até podem usar as previsões feitas em 2005, mas necessitamos de uma perspectiva de 2022”, pontua Pielke.
Para os pesquisadores, mesmo que o futuro não seja tão ruim quanto pensávamos, a meta estabelecida pelo Acordo de Paris ainda tem um papel fundamental. “Estamos perto de alcançar o objetivo de [limitar o aumento da temperatura em] 2ºC, mas ainda temos um longo caminho a percorrer se quisermos chegar ao 1.5ºC”, acrescenta Burgess.
Fonte: Galileu