Com base em inteligência artificial (IA), cientistas desenvolveram um sistema computacional para analisar projetos de barragens na Amazônia e evitar estragos ambientais. A ideia foi publicada nesta quinta-feira (17), em um estudo na revista Science.
O time composto por experts do meio ambiente e da computação criou a Amazon EcoVistas, ferramenta de IA que avalia os portfólios das barragens. O sistema seleciona aquelas que atendem às metas de produção de energia com o menor dano ambiental possível.
A invenção doi testada nas 158 barragens existentes na bacia do rio Amazonas, assim como em 351 propostas elaboradas com vários cenários diferentes. O objetivo era alcançar o ótimo de Pareto, um estado onde recursos estão alocados na forma mais eficiente. No caso, a meta foi atingir uma combinação de projetos hidrelétricos que minimizem os efeitos ambientais — independentemente do nível de produção de energia.
Isso é um desafio e tanto levando em conta que, se somados os 509 projetos, existem 2509 combinações possíveis em seis categorias, incluindo produção energética e cinco critérios ambientais. Entre esses cinco, estão: vazão e conectividade do rio, transporte de sedimentos, biodiversidade de peixes e emissões de gases de efeito estufa.
“Todas as decisões sobre a localização de barragens envolvem compensações complexas”, analisa Alexander Flecker, autor principal da pesquisa, em comunicado. “O ótimo de Pareto fornece uma maneira clara de avaliar essas compensações à medida que buscamos equilibrar a produção de energia e as diversas consequências ambientais.”
Rafael Almeida, professor assistente na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e um dos autores da pesquisa, considera a nova ferramenta uma abordagem crítica, já que o rio Amazonas e seus afluentes se distribuem por vários países com topografia diversificada.
Ele ressalta que o recurso serve também para excluir projetos prejudiciais. “Fragmentação de sistemas fluviais, bloqueio de migrações de peixes, aprisionamento de sedimentos e emissão de metano são agravados pela ausência de planejamento em toda a bacia”, alerta Almeida.
Escolher os projetos em locais menos danosos pode ser uma saída. Barragens em vales andinos íngremes dos rios do alto Amazonas, por exemplo, resultam em reservatórios menores que emitem menos metano. E construções mais altas no sistema fluvial são menos prejudiciais para os peixes que migram por longas distâncias, pois não impedem a saída dos animais como em zonas mais baixas.
Embora não exista uma solução única para minimizar os impactos ambientais das barragens, os pesquisadores acreditam que eles podem ser evitados pesando os custos ecológicos e sociais. A ferramenta de IA é a primeira a tornar essa avaliação possível na dimensão da bacia do rio Amazonas.
“Aplicar nosso método a barragens existentes na Amazônia mostra como a falta de planejamento coordenado até o momento resultou em projetos que são coletivamente mais prejudiciais do que seriam se tivessem sido construídos portfólios de barragens alternativos e estrategicamente selecionados”, critica Almeida. “Isso é verdade para todos os cinco critérios que avaliamos”.
Fonte: Galileu