Estudo revela campanha nos EUA que gerou desinformação climática no mundo

Pesquisa detalha táticas usadas pela organização norte-americana Global Climate Coalition (GCC) para atrasar a ação climática global nas últimas décadas do século 20

Organização norte-americana Global Climate Coalition (GCC) se opôs à ação climática, influenciando todo o contexto internacional (Foto: Pixabay )

Ao espalhar desinformação sobre as mudanças climáticas, a organização Global Climate Coalition (GCC) não só mudou o curso da política climática dos Estados Unidos nas últimas décadas do século 20 como também influenciou o mundo todo. Essa perigosa campanha foi detalhada em estudo publicado nesta segunda-feira (11) na revista Environmental Politics.

Segundo a pesquisa, a GCC organizou os primeiros esforços mundiais para frear o combate ao aquecimento global, criando táticas que servem de guia para a desinformação climática até hoje. Criada em 1989 e encerrada em 2001, ela foi a primeira e a maior entidade nos Estados Unidos com função de se opor às ações climáticas.

O estudo foi realizado por Robert Brulle, professor visitante da Brown University, em Rhode Island. O pesquisador hierarquizou as técnicas da GCC em quatro tópicos: o monitoramento e contestação da ciência climática; a encomenda de estudos econômicos sob medida para ampliar e legitimar seus argumentos; a mudança da compreensão cultural sobre o assunto com campanhas publicitárias; e a condução de um  lobby agressivo sobre os legisladores e outros membros das elites políticas.

De acordo com o Instituto ClimaInfo, originalmente participavam da entidade empresas de serviços públicos, como água e eletricidade, representantes do setor de carvão e uma companhia petrolífera. No ano de 1991, o grupo alcançou um total de 79 membros.

O que Brulle fez foi ir atrás de documentos previamente ocultos sobre o trabalho da GCC. O professor coletou arquivos de 1990 a 1998 da Associação Nacional de Fabricantes dos EUA e da agência de comunicação E. Bruce Harrison Inc.. Os documentos revelaram a estratégia inicial da entidade, isto é, lançar dúvidas sobre as ciências climáticas, ressaltando supostos danos econômicos causados pelo combate à crise do clima.

Os documentos também detalham uma tentativa da GCC de pressionar a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), mostrando que a organização se vangloriava também por ter influenciado negociações ambientais importantes, como a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), cujo objetivo é estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa.

Além disso, Brulle averiguou um arquivo de 1995, que resume esforços da GCC para mudar a política climática internacional, listando os principais doadores industriais da coalizão, assim como o seu orçamento.

“As ações empreendidas pela Global Climate Coalition nos primeiros dias da política climática provaram ser incrivelmente eficazes em atrasar as ações climáticas por décadas”, afirma o pesquisador, em comunicado. “Estes documentos revelam um livro de jogadas para o enorme e eficaz esforço de relações públicas que a indústria ainda emprega hoje”, avalia.

Fonte: Galileu