Estudantes criam absorvente menstrual a partir de bananeira e juçara

Alunas do Instituto Federal do Rio Grande do Sul criaram um protótipo com materiais descartados pela agroindústria, com absorção acima da média e custo baixo

Laura Nerdel Drebes; Flávia Twardowsk e Camily Pereira dos Santos (Foto: arquivo pessoal de Laura Nedel)

Não dispor de itens de higiene durante o ciclo menstrual é uma realidade que já foi enfrentada por 52% das mulheres brasileiras, segundo um levantamento da Always e do Instituto de Pesquisa Locomotiva divulgado em março deste ano. Uma delas é a mãe de Camily Pereira dos Santos. “Estávamos conversando sobre os atuais absorventes ecológicos. E, no meio disso, minha mãe começou a falar sobre quando ela era mais jovem e não tinha acesso nem mesmo ao absorvente normal”, lembra a jovem de 18 anos, de Osório (RS). “Essa foi a primeira vez que ela me disse isso e que me deparei com a questão da pobreza menstrual.”

Estudante do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) no campus de Osório, Camily percebeu que itens modernos e ecológicos — como coletores e calcinhas reutilizáveis — não são acessíveis a muitas pessoas que menstruam. Para buscar uma solução, apoiou-se na ciência e na orientação da professora Flávia Twardowski, que já conduziu pesquisas com materiais provenientes de resíduos industriais. A docente convidou outra aluna do IFRS para se juntar ao grupo: Laura Nedel Drebes, de 19 anos, que trabalha com a produção de plásticos biodegradáveis desde 2021.

A equipe criou um absorvente biodegradável e de baixo custo. Com o pseudocaule e as fibras da bananeira e sementes do açaí juçara foi possível desenvolver o material absorvente do produto. Semelhante ao algodão, essa camada fica envolta em outras duas camadas de plástico, confeccionado a partir de cápsulas de remédios da indústria nutracêutica.

Já a parte externa, que fica em contato com a pele, é igual à de um absorvente de pano. No caso, ela é feita com retalhos de sobras das costureiras da região. Esse tecido não é descartável e pode ser lavado e reutilizado. O absorvente tem o formato convencional, com abas na parte traseira, e uma abertura para inserir a camada interna, que é descartável.

Imagem dos protótipos dos absorventes. (Foto: arquivo pessoal de Laura Nedel Drebes)

Comparando as taxas de absorção do produto com os absorventes comuns do mercado nacional, a equipe constatou que sua invenção absorve mais líquido. Contudo, ainda não é possível especificar quantas horas dura a proteção. Um absorvente descartável padrão pode durar de quatro a oito horas.

Atualmente, o projeto está na etapa de expansão tecnológica e planejamento para ser disponibilizado em uma cooperativa de mulheres. “Até o momento, nós já entramos em contato com a primeira-dama da nossa cidade, que demonstrou um imenso apoio. Além disso, a população também vem se mobilizando com nossa inciativa”, comenta Camily.

Para a produção de absorventes, as jovens asseguram que não são necessários equipamentos complexos. O preço unitário do protótipo é estimado em R$0,2, podendo chegar às regiões mais afetadas pela pobreza menstrual.

Fonte: Galileu