Proposta controversa da Comissão Europeia considera “sustentáveis” investimentos nessas fontes, contanto que usem tecnologias mais avançadas. Iniciativa visa alcançar neutralidade de carbono até 2050.
O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta-feira (06/07) uma proposta que classifica o gás natural e a energia nuclear como investimentos “verdes”.
A iniciativa, lançada em fevereiro pela Comissão Europeia, considera “sustentáveis” os investimentos em usinas nucleares ou de gás natural para a produção de energia elétrica, contanto que utilizem as tecnologias mais avançadas.
Essa classificação (que recebe o nome de taxonomia) visa ajudar a mobilizar fundos privados para projetos com essas duas matrizes energéticas. A iniciativa é parte do objetivo da UE de alcançar a neutralidade de carbono até o ano 2050.
Uma moção para bloquear a proposta recebeu 278 votos a favor e 328 contra, com 33 abstenções.
O Conselho da União Europeia (UE), que representa os países e é o outro co-legislador do bloco, ainda pode rejeitar a proposta se até 11 de julho forem contra o texto 20 de 27 nações da UE, que representem pelo menos 65% da população do bloco. Isso, entretanto, é considerado pouco provável.
Plano polêmico
A iniciativa teve apoio de um bloco de países favoráveis à energia nuclear comandado pela França, do qual fazem parte também Finlândia, Polônia, Hungria, República Tcheca, Bulgária e Eslováquia. Esse grupo derrotou o bloco antinuclear, que é liderado pela Alemanha e composto também por Áustria, Dinamarca e Luxemburgo.
Algumas entidades ambientalistas e legisladores da UE criticaram o plano, afirmando que ele seria uma “lavagem verde” do combustível fóssil e da energia nuclear.
Gás natural é um combustível fóssil que produz emissões de efeito estufa, mas em grau bem menor que o carvão, e alguns membros da UE veem o produto como uma alternativa temporária frente ao carvão.
Já a energia nuclear não emite CO2, mas produz lixo radioativo, para cujo destino final não foi encontrada uma solução permanente.
A proposta teve o apoio da maioria do Partido Popular Europeu, de centro-direita, a maior bancada do Parlamento Europeu, que confirmou na terça-feira que 107 de seus parlamentares pretendiam votar a favor.
Os legisladores do grupo centrista Renovar a Europa foram amplamente a favor da proposta, enquanto os verdes e os social-democratas se opuseram em sua maioria. Um total de 353 legisladores – a maioria dos 705 legisladores do Parlamento – são necessários para rejeitar um projeto de lei.
Posição dos partidos
A redução no fornecimento de gás russo para a Europa nas últimas semanas desencadeou mais oposição à classificação de gás como sustentável na UE.
Paul Tang, um eurodeputado holandês dos social-democratas, criticou o plano como influenciado pelo “lobby da Gazprom e da Rosneft”, ambas empresas estatais russas de energia. Antes da votação, ele pediu um esboço revisado para permitir “uma discussão séria sobre o que é sustentável e quais são as respostas que a Europa precisa dar em segurança energética”.
O eurodeputado polonês Bogdan Rzonca, do partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), disse que os países menos ricos da UE precisam de investimentos privados em gás e energia nuclear para poderem abrir mão do carvão. Ele afirmou durante um debate na terça-feira que rejeitar o projeto “resultaria em uma situação em que os pobres só ficariam mais pobres”.
Gilles Boyer, deputado francês do grupo Renovar a Europa, disse que atender a demanda de energia com energia renovável a longo prazo “seria o ideal, mas não é possível no momento”.
Fonte: Deutsche Welle