Eventos climáticos extremos, como inundações, períodos de seca ou ondas de calor, geram grande impacto material na vida das pessoas. Mas não só — eles também contribuem para agravar surtos de doenças infecciosas, segundo um estudo divulgado na segunda-feira (8), na revista científica Nature Climate Change.
Ao analisarem a literatura médica dos casos de infecções conhecidas em humanos, os autores descobriram que, das 375 doenças catalogadas, 58% pareciam ser agravadas por um dos 10 tipos de eventos extremos ligados às mudanças climáticas.
O estudo mapeou 1.006 maneiras pelas quais os riscos climáticos poderiam afetar a saúde humana. Dentre alguns casos foi possível observar que chuvas intensas e inundações adoecem propiciam a infestação de mosquitos, ratos e outros animais transmissores de doenças que são atraídos para esses locais.
Já oceanos aquecidos e ondas de calor contaminam frutos do mar que comemos, e secas trazem morcegos portadores de infecções virais. “As descobertas deste estudo são aterrorizantes e ilustram bem as enormes consequências das mudanças climáticas sobre os patógenos humanos”, diz Carlos del Rio, especialista em doenças infecciosas da Universidade Emory, nos Estados Unidos, ao site Medical Xpress.
Jonathan Patz, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Wisconsin-Madison e coautor do estudo, ressalta que, conforme o clima se altera, o risco dessas doenças se agravam gradativamente. “É preciso pensar nas doenças como sintomas de uma Terra doente”, lembra.
Um risco abrangente
Além das doenças infecciosas, os pesquisadores decidiram investigar em quais outras condições humanas os riscos climáticos poderiam influenciar, como asma, alergias e até mordidas de animais. De acordo com o estudo, entre 286 enfermidades, 223 pareciam ser agravadas por riscos climáticos. Em nove, os riscos climáticos agiram como minimizadores; e 54 casos foram agravados e minimizados.
O estudo não fez os cálculos para atribuir mudanças, probabilidades ou magnitudes específicas de doenças às mudanças climáticas, mas encontrou casos em que o clima extremo foi um fator importante.
Camilo Mora, analista de dados climáticos da Universidade do Havaí, nos Estados Unidos, e principal autor da pesquisa, usa um exemplo pessoal para exemplificar os achados do estudo. Em 2017, sua casa na zona rural da Colômbia foi inundada, tornando-se um ambiente propício para mosquitos. Com isso, Mora contraiu chikungunya, um vírus transmitido por por esses insetos.
O pesquisador também cita o surto de antraz que ocorreu na Sibéria em 2016. Devido ao aquecimento do local, o degelo do permafrost revelou a carcaça de uma rena morta pela enfermidade causada pela bactéria Bacillus anthracis havia vários anos. Uma criança tocou nela, pegou a doença e um surto começou.
Analisando casos mais atuais, Mora decidiu verificar, como (e se) a Covid-19 se relaciona com os riscos climáticos. Ele encontrou casos em que o clima extremo aumentou e diminuiu o risco de contaminação.
Em alguns casos, o calor extremo em áreas pobres fez com que as pessoas se reunissem para se refrescar, de modo que ficaram expostas à doença. Em outras situações, chuvas fortes reduziram a propagação do vírus Sars-CoV-2 porque a população ficou em casa.
Fonte: Galileu