Há cerca de 200 milhões de anos atrás, a concentração de dióxido de carbono do mundo subiu para 6 mil partes por milhão (ppm), e as plantas e animais que habitavam a Terra continuaram vivos. Hoje, o aquecimento global faz com que o CO2 aumente em níveis altíssimos. Mas será que os seres humanos conseguiriam prosperar em um planeta inundado de dióxido de carbono?
Um novo estudo conduzido por Paul Olsen, geólogo e paleontólogo da Columbia Climate School, procurou entender os níveis de CO2 ao longo da história e relacionar com as atuais taxas, que bateram recorde em 2021, com 414,72 ppm.
Embora ninguém estivesse por perto para medir a concentração de CO2 da atmosfera milhões de anos atrás, os paleoclimatologistas conseguem reconstruir a temperatura e os níveis de dióxido de carbono estudando a composição de núcleos de gelo, anéis de árvores, corais, pólen antigo e rochas sedimentares.
Durante o Período Cambriano, que durou de 542 milhões a 485,4 milhões de anos atrás, a estimativa é que os níveis de CO2 podem ter sido cerca de 20 vezes maiores do que os de hoje, e as temperaturas foram 10ºC mais quentes.
Ainda assim, foi nesse período que uma gama de criaturas marinhas apareceram, além das primeiras plantas começarem a criar raízes, provavelmente desfrutando de altos níveis de dióxido de carbono atmosférico.
Já no Período Triássico (252 a 201 milhões de anos atrás), a chamada Era dos dinossauros, as taxas eram cinco vezes maiores que os níveis atuais. E, mesmo assim, répteis, crocodilianos, pássaros e dinossauros viviam bem.
De acordo com Olsen, a maioria dos pesquisadores acredita que os eventos de extinção em massa do final do Triássico estão diretamente ligados à erupções vulcânicas generalizadas. Essas erupções foram associadas a uma duplicação abrupta para a triplicação do dióxido de carbono atmosférico em pouco tempo.
“É bastante comparável ao que os humanos estão fazendo com o planeta agora”, disse o pesquisador norte-americano, em comunicado. Um estudo de 2019 revelou que as atividades humanas estão liberando anualmente até 100 vezes mais carbono na atmosfera do que os vulcões que ocasionaram na extinção da maioria das espécies do Triássico.
Cientistas do clima alertam que, no próximo século, a taxa de mudança será 10 vezes mais rápida do que qualquer padrão climático que se desenrolou nos últimos 65 milhões de anos. Por causa da rápida taxa de aquecimento de hoje, até 14% de todas as plantas e animais terrestres podem enfrentar a extinção nas próximas décadas, de acordo com um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
O planeta Terra até tem mecanismos para “sugar” todo esse dióxido de carbono, seja sendo absorvido pelo oceano, pelo intemperismo das rochas ou pela fotossíntese. “Mas, quando a Terra experimenta mudanças rápidas nas concentrações de CO2 atmosférico – como o que estamos experimentando hoje por causa das atividades humanas –, esses três mecanismos não respondem rápido o suficiente para compensar as taxas impressionantes de mudança”, explicou Olsen, em comunicado.
Mas será que os humanos poderiam sobreviver a condições climáticas hostis como as da era dos dinossauros? Embora a Terra tenha visto inúmeras flutuações nos níveis de dióxido de carbono no passado, a maioria delas ocorreu em taxas mais lentas, tornando possível que os organismos se adaptassem e evoluíssem às mudanças climáticas. Isso é menos provável no ritmo acelerado de aquecimento de hoje.
A hipótese de Olsen é a de que, mesmo com os níveis extremamente altos de CO2 atmosférico que foram registrados durante a era dos dinossauros (de até 6.000 ppm), os humanos poderiam, sim, sobreviver, mas graças a avanços tecnológicos, e não à evolução.
No entanto, altas taxas de mudança climática em curtos períodos ocasionariam rupturas sociais associadas a recursos limitados de alimentos e água, alerta Olsen. Isso significa que poderíamos sobreviver, mas não teríamos uma qualidade de vida invejável.
Fonte: Galileu