O acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia Legal foi de 9.277 km², de janeiro até o último dia 21 de outubro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (28) pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Essa é a pior marca da série histórica anual do Deter, o sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real do instituto.
O índice leva em conta o chamado ano civil, ou seja, o período total de janeiro a dezembro. Faltando mais de 2 meses para o fim do ano, essa marca já superou até mesmo todo o ano de 2019, a pior taxa até então, quando os alertas de desmate deram um salto e chegaram até 9.178 km².
Quando comparada toda a série, o acumulado de alertas de desmatamento em 2022 na Amazônia Legal marca o quarto ano consecutivo da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) em que os alertas por ano civil ficam acima da marca de 8 mil.
A Amazônia Legal é uma região que corresponde a 59% do território brasileiro e que engloba a área de 9 estados – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranhão.
“O Brasil já teve taxas anuais maiores [antes da série atual], mas quando começaram as medidas mais efetivas nunca ocorreu um descontrole como vem ocorrendo desde 2019”, explica Suely Araújo, especialista-sênior em Políticas Públicas do Observatório do Clima e presidente do Ibama entre 2016 e 2018.
“Esses dados do Deter não surpreendem, infelizmente, porque a gente já vinha acompanhando esses números”, diz Mariana Napolitano – gerente de ciências do WWF-Brasil.
“O nosso grande desafio é olhar para essas curvas e ver como podemos reverter isso. Vale lembrar que o Brasil tem uma posição de poder cumprir suas metas climáticas apenas parando o desmatamento, que não tem diferença significativa no seu PIB, pois esse é um desmatamento muito ligado à grilagem e atividades ilegais que não geram nem crescimento ecônomico nem distribuição de renda”.
Imagem do país na COP27
No ano passado, durante a COP26 (a conferência do clima da ONU), o Brasil foi um dos 127 países signatários da Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra, documento que declara o comprometimento coletivo de deter e reverter a perda de florestas até 2030.
Em Glasgow, o governo brasileiro assumiu o compromisso de zerar o desmatamento ilegal em 2028, reduzindo progressivamente a prática: 15% ao ano até 2024; 40% ao ano em 2025 e em 2026; 50% em 2027; até finalmente, em 2028, desmatamento ilegal zero.
Este ano, durante a COP27, segundo informaram fontes ligadas ao g1, para contornar a cobrança internacional sobre os recordes de desmatamento e queimadas, o governo tentará passar a imagem do Brasil como um país focado na “energia verde”.
Durante uma entrevista para a “Voz do Brasil”, sem citar as taxas de desmate na Amazônia, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, afirmou que o evento será uma oportunidade para o país acelerar “energias verdes brasileiras”.
O g1 questionou o Ministério do Meio Ambiente sobre a programação oficial do governo federal no evento, mas ainda aguarda resposta da pasta.
Deter x Prodes
Os alertas de desmatamento foram feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (exploração de madeira, mineração, queimadas e outras).
O Deter não é o dado oficial de desmatamento, mas alerta sobre onde o problema está acontecendo. A medição oficial do desmatamento, feita pelo sistema Prodes, costuma superar os alertas sinalizados pelo Deter.
Na temporada 2020-2021 – período que engloba agosto de 2020 a julho de 2021 –, foram 13 mil km² de área sob alerta de desmatamento, maior número desde 2006.
Fonte: G1