O gaio-comum é uma ave bastante esperta, com autocontrole o suficiente para resistir à tentação de comer alimentos de imediato, esperando por uma recompensa melhor. Esse dom sustenta as tomadas de decisão nos pássaros, assim como em nós, seres humanos, de acordo com um curioso estudo publicado nesta segunda-feira (31) na revista Philosophical Transactions of the Royal Society B.
Os pássaros que são da espécie Garrulus glandarius, membros da família Corvidae, escondem ou “guardam” sua comida para refeições futuras. Os pesquisadores acham que isso pode ter impulsionado a evolução do autocontrole nessas aves.
De todos os membros de sua família, os G. glandarius em particular são vulneráveis a terem seus esconderijos roubados por outras aves. Seu equilíbrio sobre si mesmos permite que eles esperem o momento certo para esconder sua comida sem serem vistos ou ouvidos.
Os cientistas observaram isso em dez gaios-comuns, em um experimento inspirado no “experimento do marshmallow” da Universidade de Stanford, de 1972, no qual crianças escolheram entre comer um marshmallow imediatamente ou dois se esperassem por um período de tempo.
A diferença é que, em vez de marshmallows, os gaios receberam ofertas imediatas de pão e queijo e mais tardias de besouros da espécie larvas-da-farinha (Tenebrio molitor). Os insetos eram entregues somente após um certo atraso, quando uma tela de acrílico era levantada.
Um intervalo de tempo de atraso foi alternado de cinco segundos a cinco minutos e meio. O bicho-da-farinha era disponibilizado só se o pássaro tivesse resistido à tentação de comer o pão ou o queijo.
A preferência das aves variava, mas elas normalmente preferiam comer os besouros — e a maioria conseguiu esperar para ganhar o inseto. Os pássaros que se saíram pior na espera foram Dolci e Homer, que só aguentaram aguardar por no máximo 20 segundos.
Quem esperou mais foi o pássaro chamado JayLo, que ignorou um pedaço de queijo e esperou cinco minutos e meio por um bicho-da-farinha. “Em vários testes, fiquei sentado assistindo JayLo ignorar um pedaço de queijo por mais de cinco minutos – eu estava ficando entediado, mas ela estava apenas esperando pacientemente pelo inseto”, recorda Alex Schnell, primeiro autor do estudo, em comunicado.
De modo semelhante ao já observado em chimpanzés e crianças humanas, os gaios-comuns desviavam o olhar do pão ou do queijo como que para ter maior autocontrole, se distraírem e não comê-los.
Autocontrole como sinal de inteligência
Não satisfeitos, os pesquisadores também apresentaram aos gaios cinco tarefas cognitivas que são comumente usadas para medir a inteligência. Os pássaros que tiveram melhor desempenho nessas tarefas também conseguiram esperar mais tempo pela recompensa do bicho-da-farinha, sugerindo que o autocontrole está ligado à inteligência nessas aves.
“O mais interessante foi que, se um pássaro era bom em uma das tarefas, era bom em todas – o que sugere que um fator geral de inteligência está subjacente ao seu desempenho”, avalia Schnell.
Em outro experimento, o besouro era visível, mas sempre fora de alcance, então os gaios sempre comiam o pão ou o queijo imediatamente disponíveis. O tempo que eles estavam dispostos a esperar caía se o inseto fosse oferecido já de imediato junto dos outros itens. Essa flexibilidade mostra que os gaios só atrasam a gratificação quando ela se justifica.
Pesquisas de outros cientistas descobriram que as crianças que fazem o experimento do marshmallow de Stanford também variam muito em seu autocontrole. Aquelas que podiam resistir à tentação de comer o doce por mais tempo obtinham pontuações mais altas em uma série de tarefas acadêmicas.
Fonte: Galileu