Foram 11,6 mil km2 de floresta derrubados, o segundo maior número dos últimos 13 anos. Monitoramento identifica dinâmica de aumento dos grandes polígonos de desmate, que têm mais de 100 hectares.
O desmatamento medido por satélite pelo Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica (Prodes) foi de 11.568 km2 em 2022. O número, divulgado nesta quarta-feira (30/11), é 11% menor que o do período anterior.
O dado, monitorado há três décadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), estimou a área de floresta destruída de 1º de agosto de 2021 a 31 de julho de 2022.
Para pesquisadores e ambientalistas ouvidos pela DW, a explicação para a queda ainda precisa ser investigada. “Não houve qualquer ação do governo federal ou do governo dos estados que pudesse explicar essa redução. Os órgãos de fiscalização continuam sucateados”, diz Márcio Astrini, do Observatório do Clima.
Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam), pontua que meses mais chuvosos em alguns estados no período analisado podem ter freado os desmatadores.
“Muitas pessoas não fazem operações de desmatamento quando está chovendo muito. Em 2021, o La Niña começou a se estabelecer, e esse fenômeno meteorológico traz mais umidade para a Amazônia”, explica Alencar.
Em todos os anos do governo de Jair Bolsonaro, iniciado em 2019, o corte da Floresta Amazônica ficou acima do patamar de 10 mil km2 anuais. No ano passado, a marca recorde dos últimos 15 anos foi atingida, com 13 mil km2.
“O dado de 2022 é ainda o segundo maior dos últimos 13 anos e só perde para o recorde do próprio governo Bolsonaro”, diz Astrini. “Não dá para comemorar, infelizmente. Mas um aumento, certamente, seria muito pior. Vale lembrar que Bolsonaro entrega o governo com o desmatamento 50% maior do que pegou em 2018.”
Mariana Napolitano, gerente de ciências do WWF-Brasil, também é cautelosa. “A gente sabe o impacto desse desmatamento: conflito com comunidades locais, aumento de crime e ilegalidades, aproximando, cada vez mais, a floresta, suas populações, sua biodiversidade, de um estado degradado de não retorno, em que a floresta perde sua capacidade de se restabelecer naturalmente”, afirma.
Amazonas foi único estado que registrou alta
Claudio Almeida, coordenador do Prodes no Inpe, afirma que as condições do trabalho de monitoramento em 2022 são semelhantes às de 2021. “Olhando para o mapa de nuvens sobre os estados, não tem muita diferença entre os anos. Além do mais, as imagens que analisamos são sempre as do período seco, as nuvens interferem pouco neste processo”, diz.
Dentre os nove estados que compreendem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), o Amazonas é o único que registrou aumento de desmatamento, com alta de 13%. O Amapá teve o maior percentual de redução, de 65%.
Embora tenha apresentado queda na devastação (21%), o Pará segue líder em 2022 em área devastada, com 4.141 km2, seguido por Amazonas (2.607 km2) e Mato Grosso (1.906 km2).
As taxas foram calculadas com base em imagens geradas pelo satélite Landsat, que cobre a Amazônia. Segundo o Inpe, três critérios técnicos são usados na escolha das imagens para a análise: cenas que cobrem a região onde foram registrados pelo menos 90% do desmatamento do período anterior, locais de onde partiram pelo menos 90% dos alertas do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real) e imagens que cobrem os 52 municípios prioritários para a fiscalização.
Polígonos desmatados cada vez maiores
A análise mostrou que o tamanho dos polígonos desmatados, como é chamada cada área analisada, está crescendo.
“Isso tem um impacto muito grande na taxa total do desmatamento. Os polígonos grandes, de 100 a 500 hectares, estão se sobressaindo. Ou seja, os grandes desmatamentos estão de volta”, diz Almeida.
Os dados de 2022 mostram que 3% dos polígonos analisados respondem por mais de 42% da área desmatada: as áreas maiores de 500 hectares corresponderam a 16% do total, e aquelas entre 100 e 500 hectares são 26%.
“Isso quer dizer que se os esforços de fiscalização fossem centrados nos maiores desmatamentos haveria maior impacto na queda dos números”, afirma Almeida. “E também mostra que não faz sentido dizer que é preciso imagens de altíssima resolução para combater o desmatamento. Os dados mostram que as áreas desmatadas estão maiores e são elas que trazem mais impactos.”
Para o próximo ano, a expectativa é de que os dados não sejam tão diferentes. Ane Alencar, do Ipam, lembra que os elevados índices de alerta de desmatamento medidos no segundo semestre de 2022 só vão aparecer no Prodes de 2023. “Agosto, setembro e outubro deste ano tiveram dados alarmantes, teve também a influência da eleição. Então a herança para o próximo governo será muito desastrosa.”
Fonte: Deutsche Welle