Na esteira de espécies que podem desaparecer num futuro próximo está o lince-eurasiático, ou lince europeu (Lynx lynx). É o que aponta um estudo publicado no periódico Frontiers in Conservation Science nesta segunda-feira (13).
A população desses felinos não é muito conhecida, sobretudo devido ao seu habitat: eles vivem nas profundezas da cordilheira do Jura, na divisa entre a França e a Suíça. A espécie reapareceu nas região no final dos anos 1970, como consequência da dispersão de linces dos Cárpatos, cadeia montanhosa no centro e leste da Europa, na mesma época.
A estimativa do número de espécimes adultos no Jura é de apenas 120 a 150. E o novo estudo traz um fator ainda mais preocupante: esse grupo de felinos não está se reproduzindo em escala sustentável a longo prazo.
Para os autores, a combinação de caça ilegal, acidentes de carro e depressão endogâmica, em que a diversidade genética insuficiente leva a problemas de reprodução e sobrevivência, limitou a concentração de indivíduos no local.
Com intuito de estabelecer o estado genético do lince europeu, os pesquisadores utilizaram 23 marcadores de microssatélites e 78 amostras de DNA, coletadas entre 2008 e 2020. Por conta da precariedade da população e localidade, as amostras coletadas eram de atendimentos de linces muito feridos ou já mortos. Algumas amostras de crias órfãs também foram utilizadas para que os animais adultos saudáveis não passassem por estresse.
Ao todo, a equipe analisou 78 amostras. Com os dados em mãos, eles compararam a genética dos linces do Jura com referências derivadas da população parental dos Cárpatos (Lynx lynx carpathicus), e os resultados foram preocupantes. De acordo com a análise, a quantidade de indivíduos reprodutores saudáveis é de apenas 38 na região entre França e Suíça. E essa ainda estimativa pode ser alta, ponderam os autores.
Um outro ponto preocupante é o resultado do coeficiente de endogamia, medida que quantifica quão provável é que indivíduos em acasalamento sejam parentes próximos. Segundo os cálculos, ele é de 41%, considerado alto. “Dada a rápida perda de diversidade genética, estimamos que essa população será extinta em menos de 30 anos”, diz Nathan Huvier, autor correspondente da pesquisa, em nota. “Essa população precisa urgentemente de novo material genético para se tornar sustentável.”
Os autores reconheceram que a introdução de mais linces no habitat seria difícil. Eles sugerem, por outro lado, que aumente a sinalização rodoviária sobre a presença de linces, além de uma aplicação mais rigorosa da lei onde a caça é ilegal.
“Queremos que este trabalho apoie a ação para a conservação do lince”, afirma Huvier. “A reintrodução, a substituição de linces caçados furtivamente e a troca de linces órfãos entre centros de atendimento são a melhor solução de curto prazo para que essa população permaneça viva, e dará a ela chance de se desenvolver e se conectar com outras populações na Europa”.
Fonte: Galileu