Nesta quinta-feira, 05/12, quando é celebrado o Dia Mundial do Solo, a Embrapa disponibiliza o livro “Ecotoxicologia Terrestre: métodos e aplicações dos ensaios em oligoquetas”. A publicação é pioneira nesta área e traz uma descrição detalhada do uso de oligoquetas, como as minhocas e os enquitreídeos, como indicadoras da qualidade solo e organismos-teste para a avaliação dos efeitos de diversos contaminantes como agrotóxicos ou metais pesados e até insumos agropecuários no solo.
Assim como outros organismos, as minhocas são utilizadas na avaliação do grau de periculosidade ambiental de produtos agrícolas exigida para o registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os mesmos métodos também podem ser aplicados em avaliações de áreas com suspeita de contaminação e também para determinar o grau de comprometimento da qualidade do solo. Os estudos contribuem, também, para o uso racional de agrotóxicos, pois ajudam a determinar a dose segura para o meio ambiente.
A publicação tem como editores-técnicos os pesquisadores Cintia Niva (Embrapa Cerrados) e George Gardner Brown (Embrapa Florestas) e é fruto do trabalho de 25 autores de 19 instituições brasileiras e duas estrangeiras. O livro foi organizado de forma a dar um panorama geral sobre a importância e o porquê da ecotoxicologia terrestre e a abordagem dos métodos de pesquisa, com descrição detalhada dos ensaios ecotoxicológicos com base em metodologias padronizadas internacionalmente e experiências dos autores com as adaptações necessárias para as condições brasileiras. A contribuição de colaboradores estrangeiros traz os avanços tecnológicos, descrevendo métodos importantes com abordagem de semi-campo e campo ainda pouco aplicados no Brasil.
“Vários grupos de pesquisadores no País trabalhavam com ecotoxicologia terrestre de forma isolada, não integrada. Submetemos um projeto de pesquisa pela Embrapa para avançar no conhecimento sobre as minhocas e enquitreídeos e integrar essas equipes”, explica Cintia Niva. “Os estudos ecotoxicológicos auxiliam a sociedade a usufruir dos recursos naturais de forma sustentável e racional”, aponta.
George Brown exemplifica que “este tipo de estudo pode indicar, por exemplo, a dose ambientalmente segura de agentes químicos ou biológicos utilizados no solo para controle de pragas e doenças; no monitoramento da qualidade do solo, da água e do ar, entre muitos outros indicadores ambientais. Pode, ainda, auxiliar a indicar quanto um determinado compartimento do ecossistema pode estar comprometido em áreas com suspeita de contaminação”.
Os estudos de ecotoxicologia com oligoquetas capitaneados por este grupo começaram em 2008 e, em 2011, foi realizado o “Workshop Ecotoxicologia com Oligoquetas: Métodos, práticas e importância”, organizado pela Embrapa Florestas e Universidade Positivo, em Curitiba (PR), para alinhar as diferentes metodologias utilizadas nos ensaios para avaliações ecotoxicológicas no Brasil e aumentar a integração entre as equipes de pesquisa. Este evento foi o marco para a elaboração do livro.
Adaptação à realidade tropical
As minhocas mais comumente utilizadas em todo o mundo para uso como indicadoras da qualidade do solo são as vermelhas-da-Califórnia (Eisenia andrei e E. fetida). Mas elas não têm a mesma relevância ecológica em todos os lugares por serem minhocas de serapilheira, originárias do clima temperado. Diante das diferenças ambientais entre as diversas regiões mundiais, o livro discute a possibilidade de algumas espécies de minhocas dos trópicos e que vivem dentro do solo serem empregadas como organismos-teste e indicadores de ecotoxicidade terrestre. Além disso, propõe algumas espécies de enquitreídeos alternativos para esses testes.
Nesse sentido, a publicação aborda os métodos mais recomendados para avaliações de ecotoxicologia terrestre para as regiões tropicais, considerando as experiências dos grupos de pesquisa que trabalham com o tema. Recomendações são indicadas para experimentos que avaliam os efeitos de substâncias quanto à letalidade, à reprodução e ao comportamento de fuga de diferentes espécies de oligoquetas, além da bioacumulação dos produtos nesses animais.
O último capítulo aborda métodos mais arrojados de semicampo ainda pouco utilizados no Brasil, como o uso de colunas ou blocos de solo intactos para aumentar o realismo das condições de campo no laboratório, sendo esses módulos de solo tratados com a substância que se deseja testar. A importância de adaptações em relação ao tipo de solo, temperatura e duração dos experimentos com oligoquetas e a necessidade de avanços na legislação, regulamentação e normas em relação à avaliação de risco com organismos de solo também são discutidas.
Impacto da obra
O livro é especialmente indicado para profissionais e alunos atuando na área acadêmica, de pesquisa, de prestação de serviços ou de órgãos reguladores, oferecendo a base conceitual e metodológica de como realizar estudos ecotoxicológicos com oligoquetas. Nesse sentido, auxilia na aplicação de metodologias mais eficientes e práticas para a avaliação e monitoramento da qualidade do solo, na avaliação de risco ambiental e em tomadas de decisão em gestão ambiental no país.
Breno Lobato