Os produtores do Oeste da Bahia poderão acessar o seguro agrícola para o consórcio milho-braquiária a partir da próxima safra. Com a implementação do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) esse arranjo poderá ser mais adotado na região.
Especialmente nessa área do estado, onde os solos são arenosos, a braquiária contribui muito para o desenvolvimento das lavouras, já que esse capim auxilia na construção do perfil do solo, ajudando na infiltração e no armazenamento de água no solo para os cultivos sucessivos, além de contribuir para o controle de doenças e de plantas daninhas. Seu consórcio com o milho garante melhor produtividade e maior sustentabilidade da produção agrícola.
O Zarc faz a análise de risco, considerando a variabilidade climática, as características do solo e a ecofisiologica da cultura, e indica a época mais adequada para o plantio. O zoneamento faz parte do Programa de Garantia de Atividade Agropecuária (Proagro), além de ser usado por várias instituições financeiras para a concessão do crédito rural.
A ferramenta foi construída a partir de modelos matemáticos com informações climáticas e dados gerados em áreas de pesquisa agrícola. Mas, para que ela seja realmente adequada à realidade da região, a Embrapa inclui a etapa de validação pelo setor produtivo.
Em Luís Eduardo Magalhães (BA), a reunião técnica realizada no dia 16, contou com a participação de cerca de 30 pessoas, entre produtores rurais, consultores, gestores públicos, representantes de bancos, cooperativas e do setor privado.
Foram feitas apresentações sobre gestão e manejo de lavouras de grãos frente às variações climáticas e da metodologia usada, além da demonstração do aplicativo móvel para celular Zarc Plantio Certo.
Importantes contribuições surgiram durante as discussões, como a sugestão de aumentar a rede de estações meteorológicas com a incorporação de bases particulares credenciadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já que são poucas as bases oficiais existentes na região. Dessa forma, haverá um aumento da base de dados para a construção dos mapas para os anos seguintes.
Segundo o supervisor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, Sérgio Abud, é importante ouvir a opinião do produtor rural para conhecer a realidade em que eles trabalham, se os riscos que eles consideram são os mesmos identificados pela pesquisa. “A validação dá maior segurança para os coordenadores em relação aos dados que foram obtidos em áreas experimentais de pesquisa”, explica.
“O Zarc é resultado da antiga batalha do setor produtivo para reduzir o risco da atividade agrícola, e que só é possível com a interação entre os setores público e privado”, comentou o pesquisador Fernando Macena, acrescentando que uma das metas prioritárias do Programa Agir – Agro Gestão Integrada de Riscos (ProAgir), recém-lançado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é a ampliação e o contínuo aprimoramento do método.
A equipe da Embrapa Cerrados também visitou algumas propriedades rurais da região para entender o momento pelo qual estão passando, de atraso no início das chuvas, e orientou os produtores sobre como a ferramenta pode ser usada para ajuda-los na escolha dos melhores períodos de plantio quando há pouca chuva, como vem ocorrendo nos últimos anos.
O Zarc
Ferramenta tecnológica de análise de risco que considera a variabilidade climática, as características do solo e as características ecofisiológicas da cultura, o Zarc permite quantificar o risco para cada época de semeadura e para cada local, indicando a época mais adequada de plantio, além de contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola, bem como para a racionalização do crédito agrícola, a redução de perdas, a proteção do solo e do meio ambiente.
Adotada como política pública desde 1996, a metodologia foi desenvolvida pela Embrapa, envolvendo atualmente 25 unidades de pesquisa e mais de 100 pesquisadores no aprimoramento e na atualização do modelo para mais de 40 culturas, com alcance de 24 Unidades da Federação. As recomendações geram portarias pelo Mapa, permitindo o acesso ao Proagro, ao Proagro Mais e à subvenção federal ao prêmio do seguro rural.
Para o pesquisador Fernando Macena, da Embrapa Cerrados, existe uma grande dificuldade para a construção do Zarc do consórcio milho-braquiária, pois se trata de sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), que pode ser implantado de diversas formas e com diferentes objetivos. “É difícil contemplar essa dinâmica. Há produtores que aplicam herbicida (para dessecar a braquiária), outros querem fazer pastagem. Por isso é complexo elaborar o Zarc para esse consórcio”, afirmou.
Dos quase 15 milhões de hectares de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) no Brasil, de acordo com o Censo Agropecuário 2017 do IBGE, 83% representam sistemas de ILP como o consórcio milho-braquiária, que proporcionam diversos benefícios econômicos, como aumento da produção de grãos, carne e leite; sociais, como a geração de empregos; e ambientais, como a mitigação de gases efeito estufa, sequestro de carbono e a redução da pressão para a abertura de novas áreas.
Uma particularidade do consórcio é que ele consome mais água da chuva que a cultura solteira do milho, encurtando a janela de plantio. “Por outro lado, a braquiária, que não sofre tanto com os veranicos, prepara um perfil maior de exploração do solo, proporcionando mais água ao sistema. A planta que limita o sistema é o milho”, explicou o pesquisador.
O Zarc visa à indicação de datas ou períodos mais adequados de semeadura do milho consorciado com a braquiária por município, considerando a característica do clima, o tipo de solo e o ciclo da cultivar, de modo a evitar que adversidades climáticas coincidam com as fases mais sensíveis das culturas, minimizando perdas agrícolas.
São utilizados como parâmetros de entrada dados sobre clima (chuvas, evapotranspiração de referência, temperatura mínima a cada período de 10 dias), solo (profundidade efetiva do sistema radicular e capacidade de armazenamento de água) e da cultura do milho (ciclo, fases da planta, coeficiente de cultura para consumo de água e profundidade do sistema radicular). Esses parâmetros geram o Índice de Satisfação de Necessidade de Água (ISNA) para as fases críticas da cultura, que no caso do milho são a de plantio/emergência e de florescimento e frutificação.
Para a indicação das datas de plantio em decêndios (períodos de 10 dias), a metodologia leva em conta o ciclo da cultura (precoce, médio ou tardio) e classifica os solos de acordo com a textura – arenosa (teor de argila entre 10% e 15% e baixa capacidade de retenção de água), média (15% a 35% de argila e média capacidade de retenção de água) ou argilosa (35% ou mais de argila e alta capacidade de retenção de água).
Essas informações baseiam os mapas do Zarc, que apontam o risco climático do plantio/semeadura a cada decêndio nas diferentes regiões do País. O risco pode variar de 80% (oito anos de sucesso do plantio a cada 10 anos), 70% (sete anos de sucesso a cada 10 anos) ou 60% (seis anos de sucesso a cada 10 anos). “Não dizemos que o produtor não pode plantar fora dessas datas, estamos falando dos riscos”, esclareceu Macena.
Para o público presente, o pesquisador demonstrou o uso da ferramenta simulando os riscos de plantio do milho safra e safrinha em consórcio com a braquiária em diferentes decêndios, considerando alguns ciclos (precoce e médio) e tipos de solos (médio e argiloso). Ele explicou que as séries de decêndios são atualizadas visando contemplar veranicos e eventos climáticos adversos como os fenômenos El Niño e La Niña, que produzem diferentes efeitos de acordo com a região do Brasil.
Facilidade à mão
O aplicativo móvel Zarc – Plantio Certo, disponível na loja de aplicativos da Embrapa, fornece as épocas “ideais” para o plantio de 43 culturas (por município, ciclo da planta e tipo de solo), a cultivar mais apropriada para determinado propósito (em 12 culturas) e as condições climáticas antes e durante a safra. Antes, era preciso acessar as tabelas divulgadas apenas nas portarias publicadas no Diário Oficial da União ou no site do Mapa.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Alexsandra Duarte, as informações do aplicativo são simples e palatáveis para facilitar a decisão do produtor. “A ideia é que seja um insumo tecnológico, servindo de orientação no momento de decidir qual pacote (tecnológico) utilizar”, disse. A pesquisadora demonstrou o uso do Zarc Plantio Certo com o plantio do milho em Brasília (DF), apontando as diversas variáveis informadas.
Zarc é validado para o DF e Entorno
Em reunião técnica realizada na Embrapa Cerrados no dia 4 de dezembro, cerca de 30 pesquisadores, técnicos, extensionistas, produtores rurais e representantes de cooperativas discutiram a validação do Zarc para o consórcio milho-braquiária para o Distrito Federal e Entorno.
Ferramenta tecnológica de análise de risco que considera a variabilidade climática, as características do solo e as características ecofisiológicas da cultura, o Zarc permite quantificar o risco para cada época de semeadura e para cada local, indicando a época de plantio mais adequada, além de contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola, bem como para a racionalização do crédito agrícola, a redução de perdas, a proteção do solo e do meio ambiente.
As informações servirão de base para um relatório que será elaborado pelos pesquisadores da área de agroclimatologia da Embrapa Cerrados e encaminhado ao Comitê Gestor do Zoneamento Agrícola de Risco Climático da Embrapa. O comitê fornecerá as informações ao Mapa para que seja publicada uma portaria disciplinando o Zarc para o consórcio milho-braquiária para o Distrito Federal e Entorno.