Incentivos para produção de bioenergia precisam continuar no contexto pós-pandemia

Governantes devem assegurar continuidade de políticas voltadas para bioenergia, biocombustíveis e bioprodutos que já se mostraram bem-sucedidas; assunto foi tema de webinar da BBEST, conferência que tem apoio do programa BIOEN-FAPESP

O contexto atual de pandemia não deve desestimular a continuidade de medidas que têm sido tomadas em relação à bioenergia nos últimos anos. Com a queda na demanda por combustíveis, o setor pode passar por dificuldades nos próximos meses e incentivos são essenciais para manter a produção, que contribui, inclusive, para o cumprimento das metas de emissões de gases do efeito estufa. Essa foi uma das conclusões do webinar “The Biofuture Principles for post-COVID Recovery: an Agenda for Brazil”, realizado no dia 13 de agosto e disponível no YouTube.

O seminário on-line integra a programação da Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST) 2020.

“A ideia aqui é dar início às discussões da conferência BBEST, que realizamos todo ano. Escolhemos discutir hoje a recuperação da economia pós-COVID e como fazer isso de forma sustentável, com bioenergia. A economia desacelerou, mas as mudanças climáticas, não”, disse Gláucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da USP e coordenadora do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), durante a abertura do evento.

“Precisamos aumentar nossos esforços e fazer crescer a produção de biocombustíveis para alcançar nossas metas de emissão de gases do efeito estufa. Não podemos retomar nossas economias com emissões maiores”, completou.

Carlos Henrique de Brito Cruz, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que ocupou o cargo de diretor científico da FAPESP de 2005 a abril de 2020, lembrou que mais de 40% de todo o suprimento de energia do Brasil em 2019 veio de fontes renováveis. Dessa porcentagem, a maior parte, 16%, veio da energia gerada a partir da cana-de-açúcar.

“Ter 40% do suprimento primário de energia vindo de fontes renováveis é uma grande conquista do Brasil. É algo muito singular, muito especial e benéfico para o país e para o mundo. Além de gerar energia emitindo menos gases do efeito estufa, o programa de bioenergia brasileiro cria e mantém 594 mil empregos. A energia renovável, como um todo, mantém 893 mil empregos, o que é muito, especialmente no mundo de hoje. Portanto, é uma iniciativa que criou sustentabilidade para o país, autossuficiência em energia e empregos para os brasileiros”, disse Brito Cruz.

Princípios

Durante o webinar, os participantes comentaram o lançamento, no dia 12 de agosto, dos Cinco Princípios para a Recuperação e a Aceleração da Bioeconomia Pós-COVID, da Plataforma para o Biofuturo. Composta de 20 países e com liderança do Brasil, a iniciativa fundada em 2016 tem como objetivo promover a bioeconomia sustentável.

Os cinco princípios incluem a continuidade dos projetos existentes, apoio a curto prazo a produtores, reavaliação da necessidade de manutenção de subsídios aos combustíveis fósseis, integrar o setor da bioeconomia aos planos mais amplos de retomada econômica e a criação de mecanismos para incentivar a produção sustentável de biocombustíveis, bioenergia e bioprodutos.

Segundo Renato Godinho, do Ministério das Relações Exteriores, as medidas são importantes em um cenário em que a produção de biocombustíveis para transporte deve cair 13% este ano, segundo a Agência Internacional de Energia, como consequência da queda nas atividades por conta da pandemia.

“Mesmo quando há políticas em que é obrigatória uma parcela de biocombustíveis entre os combustíveis usados, se o total de consumo cai, o de biocombustíveis cai também, obviamente. Um segundo impacto é que os preços baixos do diesel e da gasolina também influenciam a competitividade dos renováveis. Um produtor de álcool hoje está vendendo menos e por um preço menor. Isso é o que acontece geralmente e é preocupante para o setor”, disse Godinho.

Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, lembrou que incentivos como a certificação Renovabio, que entrou em operação este ano, são um exemplo dos princípios da Plataforma para o Biofuturo que o Brasil já segue. Atualmente, 229 produtores de biocombustível e um de biometano são certificados. As empresas devem cumprir critérios como não ter plantações em áreas desmatadas e seguir o Código Florestal brasileiro, tido como um dos mais rigorosos do mundo.

Mais informações no site do evento: http://bbest-biofuture.org/webinar/.

O webinar está disponível também no YouTube: https://youtu.be/tr5O38Jzlcc.

Fonte: FAPESP