EXCLUSIVO: Portadores de deficiência mental conquistam inclusão na sociedade a partir do contato com a natureza

Mônica Pinto

O Centro Abrigado Zona Norte – Cazon – é uma instituição gaúcha voltada para o atendimento aos portadores de deficiência mental na idade adulta. Funciona como um centro ocupacional, com o objetivo, principalmente, de promover a inclusão social deste público. O vínculo institucional é com a Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e Pessoas Portadoras de Altas Habilidades do Rio Grande do Sul – Faders .

Desde 2002, essa estratégia passou a ter, como um de seus alicerces, a educação ambiental. As ações transcorrem a partir de propostas relacionadas a agroecologia e gestão de resíduos, estando hoje, em pleno desenvolvimento, os seguintes projetos: Compostagem Urbana, Reciclando Idéias, A Natureza no jardim, Horta Ecológica, Calendário Ecológico, Vivências Externas, Plantas Vivas e Clube da Árvore Amigos da Natureza.

“Reconhecer as diferenças é essencial no caminho da integração e, principalmente da inclusão”, defende Jorge Amaro de Souza Borges, educador ambiental que criou e implantou a proposta. “O foco de ações da Oficina de Técnicas Agrícolas e Educação Ambiental é respeitar a capacidade de aprendizado de cada um, valorizar os conhecimentos próprios que possuem, mas principalmente, respeitar suas limitações, reconhecendo suas diferenças e ressaltando suas potencialidades”, afirma.

Entre as ações inclusivas levadas a termo sob a ótica da educação ambiental, ele cita o intercâmbio entre atendidos pelo Cazon e estudantes de uma rede de ensino privada. “Tivemos momentos riquíssimos. Em um deles, os aprendizes ministraram oficinas de compostagem e plantas medicinais aos alunos do colégio”, diz Jorge Borges.

Em outro exemplo, a inclusão transcendeu a esfera social e chegou ao mercado de trabalho. Uma turma de jardinagem e paisagismo já presta serviços profissionais a duas empresas de Porto Alegre.

Um entusiasta da proposta e de seus resultados, Jorge Borges diz que a base dos mutirões realizados, um dos quais uniu deficientes auditivos, mentais e alunos de uma escola agrícola, é o respeito à diversidade. “Promovemos contatos com comunidades indígenas, moradores de rua, crianças, enfim, espaços de uma riqueza imensurável”, coloca o educador ambiental, cuja formação é de técnico agrícola.

Segundo ele, o objetivo prioritário da Educação Ambiental é o fortalecimento do espírito crítico dos cidadãos. “Quando você oferece esta perspectiva a pessoas que muitas vezes nem sabem o significado de cidadania, você simplesmente transforma suas vidas. E a inclusão, nada mais é do que ser cidadão pleno”.

Como resultados práticos desse trabalho a longo prazo, Jorge Borges aponta a construção de uma sociedade mais justa, humana e solidária. “Promover espaços que aglutinem estas idéias é, acima de tudo, proporcionar a criação de redes cooperativas que nos fazem acreditar em sonhos”.