Mônica Pinto / AmbienteBrasil
Enquanto o bispo de Barra (PE), Dom frei Luiz Flávio Cappio, em greve de fome desde a segunda-feira 26, começa a sentir tonturas por causa da privação de alimentos, o apoio a sua proposta de, com essa medida, tentar deter o projeto de transposição do rio São Francisco amealha manifestações de apoio por todo o país. (Leia EXCLUSIVO: O idealismo de um só homem pode barrar a transposição do rio São Francisco)
Segundo o sociólogo Ruben Siqueira – coordenador do Projeto São Francisco, desenvolvido pela Comissão Pastoral da Terra e pelo Conselho Pastoral dos Pescadores, na bacia do rio, para articular iniciativas populares de revitalização -, aumenta o número de visitantes de todas as regiões do Brasil, que dirigem-se à pequena cidade de Cabrobó, a 586 Km de Recife, Pernambuco, onde o bispo se encontra, na capela São Sebastião.
A sociedade civil organizada em todo o país tem empreendido movimentos de solidariedade ao religioso. Nesta sexta-feira, 30 de setembro, um ato público em Salvador disseminou informações sobre a transposição do rio São Francisco e as alternativas para uma convivência com o semi-árido. Foram apresentadas cartas enviadas ao frei Cappio, em apoio à greve de fome.
Durante todo esse final de semana, estão sendo programadas romarias e visitas de missões e organizações ao bispo. Além disso, a Arquidiocese de Salvador determinou que todas as missas do domingo 2, na capital baiana, fossem dedicadas a ele.
Para esta segunda-feira 3, está prevista a realização de uma vigília em todo o país, defronte das sedes do Ibama, que tem prazo de dez dias para licenciar de vez o projeto de transposição – ou interrompê-lo. Esta semana, uma comissão de senadores prepara-se para visitar Dom Cappio.
Já na terça-feira, 4 de outubro, dia de São Francisco e aniversário do religioso, mais dor de cabeça para o Governo Federal: anunciam-se passeatas em todas as capitais, tendo como mote a defesa de sua vida a partir da revogação do projeto de transposição. Vigílias de oração como as já registradas em Salvador e em Montes Claros (MG) espalham-se por todas as fés.
O Planalto, apesar do silêncio, dá sinais concretos de preocupação. Ainda na quarta-feira, o secretário geral da Presidência da República, Luiz Ducci, e o chefe de Gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, fizeram uma sugestiva visita à sede da CNBB. “Foi uma audiência reservada”, diz Irmã Patrícia, responsável pela Comunicação da entidade. “Não sei dizer do que foi tratado”, completa.
Logo após essa visita, porém, chegou à Cabrobó a informação de que o presidente Lula estaria enviando, por intermédio de um emissário, uma carta a Dom Luiz Flávio e um pedido: quer ouvi-lo.
E haja desconforto para o Governo: em entrevista coletiva à imprensa na sexta-feira, o presidente da CNBB e cardeal-arcebispo de Salvador, Dom Geraldo Majella, desmentiu o ministro da Integração, Ciro Gomes, que afirmara ter recebido apoio do líder religioso ao projeto de transposição do São Francisco. Dom Geraldo destacou que ele e a entidade apóiam a revitalização do rio. E só.
A exemplo da CNBB, a Família Franciscana também manifestou solidariedade a Dom Luiz através de carta, assim como o presidente da Comissão Pastoral da Terra, Dom Tomás Balduíno, para quem o projeto de transposição é “faraônico” (leia ambas as mensagens na íntegra no final da matéria).
O governador da Bahia, Paulo Souto, revelou em entrevista a uma emissora de rádio que esteve com o presidente Lula, na quarta-feira 28, e externou a ele sua preocupação com a sobrevivência do bispo, destacando a grande contribuição do religioso para a defesa da vida do rio e da população ribeirinha.
Confira novas manifestações de solidariedade a Dom Luiz Cappio:
Carta da Família Franciscana do Brasil
Carta de Dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra, a Dom Luiz Cappio