Danielle Jordan / AmbienteBrasil
Quinze presos da Colônia Penal Agrícola do Paraná – CPA – em Piraquara, na região Metropolitana de Curitiba, estão participando de um curso de agricultura orgânica e cultivo de hortalicas, olericultura. O curso teve início no dia 23 passado e faz parte de um convênio com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR. Em 40 horas de aulas, os alunos recebem embasamento teórico e prático, capacitando-os para essa técnica de cultivo.
As coordenadoras do Programa de Capacitação da CPA, Maria Lúcia Ferreira e Maria Aparecida Pereira dos Santos, procuram trabalhar a Educação Ambiental também com os outros alunos. “Mesmo os que não estão inseridos no curso”, explica Maria Aparecida, ressaltando a importância dada às questões sócio-ambientais.
Os detentos, assim, ocupam o próprio tempo de forma qualificada. “Estão trabalhando, aprendendo e abrindo perspectivas de reinserção no mercado”, diz Maria Lúcia, para quem este trabalho envolve relacionamento, compromisso e valores.
A questão sócio-ambiental merece destaque, tendo como base a avaliação feita pelos próprios alunos. “Eles passam a entender-se como agentes de transformação e de conservação do meio ambiente”, pondera ela, comentando um dos relatos em que um interno diz nunca ter se dado conta do valor do meio ambiente.
O curso auxilia na recuperação do comportamento e reestruturação da personalidade. Os detentos passam a ter mais responsabilidade e a sentirem-se mais importantes, de acordo com Maria Lúcia. Eles também se beneficiam da redução da pena em um dia, a cada 18 horas de curso, desde que este seja concluído.
Maria Aparecida também destaca que a localização da Colônia Penal, em Área de Preservação Ambiental próxima às nascentes da Serra do Mar, faz com que a agricultura orgânica seja a única forma de produção permitida, uma vez que os produtos utilizados não prejudicam as águas.
A produção é consumida na própria CPA, que a repassa para a empresa responsável pelo fornecimento da alimentação à população carcerária. Quando há excedentes, são feitas doações para instituições carentes da região. Os visitantes e familiares logo poderão se beneficiar também com os produtos plantados na horta da Colônia, pois esta é outra das metas do projeto.
O engenheiro agrônomo Homero Amaral Cidade Júnior, instrutor do curso, destaca a viabilidade da cultura orgânica, que utiliza matérias-primas e técnicas naturais. Segundo ele, o excesso de agrotóxicos, muitas vezes observado em cultivos tradicionais, nem sempre está relacionado somente a problemas tecnológicos, mas também à falta de informação do produtor. A agricultura orgânica respeita o consumidor, segundo ele, pois não utiliza materiais agressivos à saúde e ao meio ambiente.
O curso permite ganhos que vão além dos financeiros e ambientais. “Os alunos vão semear esse conhecimento”, destaca Homero, referindo-se especialmente aos alunos de diversas localidades, que poderão levar informações para todo o estado.
O detento Gilberto Cardoso, de 37 anos, pretende dar continuidade ao trabalho em liberdade. “Tenho um pedacinho de terra no norte do estado e quero tentar implantar esse sistema”, antecipa. A agricultura tradicional ainda é muito utilizada na sua região, o que – acredita ele – tornará o seu produto ainda mais atrativo. A produção é, no seu entender, “muito gratificante”. “Não existem queimadas nem venenos que poderiam prejudicar o solo e a própria saúde. É vida transformando vida”.
Outro aluno, José Carlos Bueno, 35, alimenta esperanças a partir do curso. “Eu não tenho uma área para produzir, mas, se futuramente tiver, pretendo usar as técnicas que aprendi”.
*Fotos cedidas por Maria Lúcia Ferreira e Maria Aparecida Pereira dos Santos, coordenadoras do Programa de Capacitação da Colônia Penal Agrícola.