Danielle Jordan / AmbienteBrasil
O ano de 2006 ficará marcado na memória de muitos cidadãos que participaram de mais um capítulo da história da humanidade. A realização no país do maior evento mundial sobre a biodiversidade, a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica – COP8 – trouxe muitos frutos, mas os acordos ainda caminham a passos lentos, se comparados com a rapidez da devastação.
A educação com objetivo de conscientizar e mobilizar a população para que o meio ambiente seja preservado pode ser o melhor rumo a ser tomado, sensibilizando os cidadãos para os riscos que nossas florestas, nossos animais, e, conseqüentemente, a raça humana, correm se a natureza não for preservada. As tentativas de reversão deste quadro devem ser aplaudidas e multiplicadas.
A Organização das Nações Unidas – ONU – institui a data de 22 de maio como “Dia Internacional da Diversidade Biológica”. O objetivo da comemoração é chamar a atenção para este tema que tem uma série de demandas e desafios, principalmente conscientizar a população para a perda de biodiversidade mostrando iniciativas importantes, de acordo com o coordenador geral de Conservação e Biodiversidade do MMA, Bráulio Ferreira de Souza. Na sua avaliação, a COP8, realizada em março deste ano, não resolveu todos os problemas relacionados à biodiversidade, foi apenas uma etapa na consolidação de um marco legal.
A ocasião deve ser marcada por comemorações por todo o globo. Na tarde desta segunda-feira, 22, o presidente Luís Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participam de uma solenidade. Estão previstos também lançamentos de publicações relacionadas ao tema, como uma base de dados com os nomes comuns da diversidade brasileira, “para evitar que casos como o ocorrido com o cupuaçu se repitam”, explica Bráulio, referindo-se à requisição dos direitos do nome por uma empresa japonesa, o que traria diversos transtornos aos produtores brasileiros.
O Brasil abriga a maior diversidade biológica entre os países “megadiversos”, segundo informações do Ministério do Meio Ambiente – MMA -, reunindo 70% das espécies animais e vegetais catalogadas até hoje no mundo. Estima-se que o país seja detentor de 15 a 20% de toda a diversidade biológica mundial, além de possuir o maior número de espécies endêmicas – que só ocorrem em determinadas regiões.
Esta megabiodiversidade do país pode ser encontrada também nas raízes culturais, entre indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, detentoras de conhecimentos milenares passados de uma geração à outra, sobre os recursos naturais, e como podem ser manejados adequadamente. A repartição dos benefícios obtidos com a exploração dos recursos, com estas comunidades detentoras dos conhecimentos, estava entre as principais discussões da última edição da Conferência, mas pouco avançou.
Bráulio destacou, entre os desafios, a grande perda de biodiversidade nas últimas décadas e as previsões de que as pressões tendem a aumentar. Em países megadiversos, como o Brasil, outro desafio, além da conservar a diversidade biológica, é conhecê-la integralmente. Enquanto cada vez mais espécies engrossam a lista de ameaçadas de extinção, sabe-se que novas espécies ainda nem foram descobertas. Uma das publicações que deve ser lançada na comemoração busca mensurar o tamanho da biodiversidade brasileira. “Cerca de 200 mil espécies já foram descritas, mas acredita-se que isso represente apenas 10% do total”, aponta Bráulio. “Precisamos conhecer a biodiversidade antes que a gente não consiga mais reverter este processo de perda, antes que ela acabe”.
O mais urgente, segundo o coordenador, é a mudança de mentalidade da população. “Todos nós, enquanto consumidores temos responsabilidade sobre o que está ocorrendo”, diz.
Dupla comemoração
A biodiversidade divide opiniões, ou melhor, datas de comemoração. A ONU divulga oficialmente 22 de maio como o “Dia Internacional da Diversidade Biológica”, mas outra data também aparece nas ferramentas de busca na internet. Segundo diversos meios de comunicação, incluindo secretarias de Meio Ambiente estaduais, o dia 29 de dezembro é apontado como o “Dia Internacional da Diversidade Biológica”.
A assessoria de imprensa do MMA esclarece a suposta “confusão”, dizendo que inicialmente o dia 29 de dezembro era a data oficial da comemoração, por ser o dia em que o texto da Convenção da Diversidade Biológica – CDB – entrou em vigor, mas pela proximidade das festas de final de ano, acabava por não receber a devida importância. Motivo este que levou a ONU a alterar para o dia 22 de maio, que marca a finalização do texto da CDB, em Nairobi, antes da realização da RIO-92.
Independentemente do motivo que levou a esta duplicidade, o fato nos faz lembrar que a biodiversidade não deve ser celebrada apenas uma vez ao ano, mas sim, diariamente. Seja no dia 22 de maio, 29 de dezembro, ou qualquer um dos outros 363.
Comemorando efetivamente
A ONU proclamou 2006 como o Ano Internacional dos Desertos e Desertificação, levando o Secretariado Executivo da CDB a convidar os países partes a participar das comemorações desenvolvendo atividades para promover a proteção da biodiversidade, com o objetivo de atingir as metas de redução da taxa de perda de biodiversidade até 2010.
No site oficial, em inglês, (www.biodiv.org) uma série de sugestões são propostas a exemplo de iniciativas realizadas anteriormente em todo o mundo.