Mônica Pinto / AmbienteBrasil
O isolamento de várias comunidades na Amazônia – indígenas ou não – sempre favoreceu todo tipo de crime ambiental, do tráfico de animais, aos garimpos e explorações madeireiras ilegais.
Porém, na terça-feira passada, a tecnologia colocou-se na prática a serviço da conservação dos recursos naturais. Ao romper com o isolamento, tornou-se instrumento de fiscalização.
Nesta data, moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Cujubim, localizada no rio Jutaí, afluente do rio Solimões no Amazonas, fizeram uma denúncia de exploração madeireira ilegal na unidade de conservação que resultou na apreensão de 98 toras e 120 pranchas beneficiadas de cedro, no rio Juruazinho, dentro da RDS.
O canal para o contato da comunidade com o Ibama e com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) foi um sistema de comunicação via rádio, que também viabilizou aos denunciantes o monitoramento da rota dos infratores, de modo a que pudessem indicar precisamente onde eles estavam aos fiscais.
O equipamento foi doado aos moradores da RDS – cerca de 56 famílias – pela ONG Conservação Internacional (CI-Brasil), com apoio da Embaixada Britânica.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Cujubim, criada em 2003 no município de Jutaí, extremo oeste do Amazonas, pelo Governo do Estado, tem cerca de 2,4 milhões de hectares – área superior à de Israel, por exemplo. Está entre as maiores unidades de conservação de uso sustentável do Brasil.
Distribuídas por essa extensão, as moradias chegavam a ter uma distância entre si de 50 Km, o que criava dificuldades inclusive para cobrar a presença do Estado na região.
“Com o rádio, a comunidade ganhou voz ativa na fiscalização da reserva”, disse a AmbienteBrasil Enrico Bernard, gerente do Programa Amazônia da CI-Brasil. O sistema, de longo alcance, é movido a energia solar, já que a RDS não dispõe de eletricidade.
Segundo ele, há pouco menos de um ano algumas famílias decidiram se agrupar em um núcleo, formando efetivamente uma comunidade, de maneira a solicitar formalmente investimentos do Estado, que já se comprometeu a implantar na RDS Cujubim um posto de saúde e uma escola.
“Quando os recursos naturais estão associados à pobreza, a tendência é que se abra mão destes recursos das piores formas possíveis”, adverte Enrico, lembrando o acesso “dificílimo” à reserva, distante 12 dias de barco a partir de Manaus.
O secretário executivo adjunto de Extrativismo, Ademar Cruz, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS) do Governo do Amazonas, festejou a denúncia dos moradores da RDS Cujubim ao Ibama como “um novo momento na gestão de Unidades de Conservação em nosso Estado, voltado para o estabelecimento de parcerias institucionais e um novo modelo de gestão de áreas protegidas”.