EXCLUSIVO: Projeto “Peixes de Bonito” sensibiliza para o correto ecoturismo no Planalto da Bodoquena (MS)

Mônica Pinto / AmbienteBrasil

No Mato Grosso do Sul, uma cidade que já traz beleza no nome – Bonito – tornou-se, ao longo dos últimos anos, um dos destinos mais apreciados no Brasil pelos ecoturistas.

Com rios e nascentes de águas límpidas, toda a região do Planalto da Bodoquena é especial pela possibilidade de apreciar verdadeiros jardins submersos e espécies de peixes de tamanhos e cores variados.


Como realizar a gestão ambiental de uma área sob pressões crescentes, com ambientes muito delicados e cujas espécies sequer são conhecidas adequadamente? Foi essa a pergunta que o pesquisador José Sabino se propôs a responder.

Ele conheceu Bonito como turista, em meados da década de 90. Trabalhava então como professor da PUC-SP e pesquisador da Unicamp. Apaixonado pela região e percebendo a necessidade de ampliar o conhecimento científico da área, ele começou a estudar a ictiofauna – um esforço inicialmente solitário, mas que depois foi ganhando a adesão de alunos e colegas.

Em 2001, já contratado pela UNIDERP – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal -, com sede em Campo Grande, Sabino transferiu-se de vez para o Mato Grosso do Sul, juntamente com a esposa, a bióloga Luciana Paes de Andrade, e passaram a residir em Bonito, onde implantaram os estudos na forma de um projeto com várias ações (pesquisa, educação, gestão ambiental e turismo científico).

Esse projeto recebeu o nome de “Peixes de Bonito”, que, em julho, lança um pacote educativo contendo cartilha com regras de visitação de mínimo impacto (confira no final da matéria); o guia subaquático dos peixes de Bonito, o site www.peixesdebonito.com.br e o DVD institucional.

“No fundo, todas essas ações fazem parte de um objetivo maior que é educar e mobilizar as pessoas para enxergarem os peixes e seus ambientes como organismos e locais merecedores de nosso respeito, admiração e afeto”, diz José Sabino.
Esse trabalho é alicerçado no conhecimento. Nestes últimos cinco anos de existência formal do projeto, ele contabilizou 22 comunicações científicas em congressos, seis artigos científicos publicados em revistas do Brasil e do exterior – com duas novas espécies de peixes descritas por pesquisadores do projeto -, além da formação de alunos de graduação e pós-graduação. “Já temos quatro dissertações de mestrado concluídas na área”, informa Sabino.

O “Peixes de Bonito” também ganhou reconhecimento nacional, na forma do I Prêmio Super-Ecologia, categoria Fauna, oferecido pela Editora Abril (2002) e, mais recentemente, em 2005, do II Prêmio do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável – CEBDS -, categoria Setor Acadêmico.

“Em longo prazo, é nossa esperança que os resultados do projeto ajudem a formar uma cultura de conservação para a área”, diz o pesquisador, para quem a base de dados também pode ajudar os gestores públicos em suas tomadas de decisões.

E o ecoturismo na região vem se desenvolvendo de maneira correta? “Nem sempre”, responde Sabino. “No Aquário Natural de Bonito, por exemplo, nossos estudos mostraram claras perdas de biodiversidade. Ao invés de aceitar as sugestões de manejo e conservação, fomos praticamente expulsos do local”, relata.

O que mais o surpreendeu foi que os estudos visavam a sustentabilidade econômica, social e, claro, ambiental do local. “Isso representa maior longevidade do negócio. Mas a arrogância muitas vezes deixa as pessoas cegas e surdas”, lamenta, registrando que, em outro locais como o Rio Sucuri e Rio da Prata, os estudos e sugestões dos pesquisadores são bem aceitos. “Temos grande inserção com os proprietários e guias de turismo da região”.

Regras de visitação de mínimo impacto

Para a prática do turismo sustentável, cujo mote é “você conhece sem destruir”, é preciso observar um código de conduta na visita de rios e nascentes:

Durante a flutuação:
* Movimentar braços e mãos lentamente;
* Não bater pernas;
* É proibido usar nadadeiras;
* Usar roupa de neoprene para aumentar a flutuação e preservar o leito do rio;
* Não tocar nas plantas do leito do rio (elas garantem a vida da maioria das outras espécies que nele vivem);
* Manter distância de aproximadamente dois metros do visitante da frente;
* Manter distância dos animais silvestres, incluindo os peixes. Não tente tocar propositalmente neles;
* Não levar pedras, plantas e animais; tudo deve ser deixado no local.

Foto 1 – Flutuação sem nadar: regra de conduta
Foto 2 – Região do Planalto da Bodoquena, foco do projeto
(Fotos extraídas da cartilha “Projeto Peixes de Bonito”)