Mônica Pinto / AmbienteBrasil
Num Brasil em que – felizmente – cada vez mais pessoas adquirem a consciência de que é vital conservar os recursos naturais, surgem novos conceitos para atividades econômicas, profissionais e sociais. São adaptações que agregam aos conhecimentos testados e aprovados outros que se voltam a uma produção baseada em princípios de sustentabilidade. Entre elas, está a Bioconstrução, modelo de construção civil a incorporar novas tecnologias e a resgatar outras, milenares. O ponto em comum é a responsabilidade ambiental, não encarada como um viés do processo, mas, sim, como um dos foco centrais.
Muitas atividades do Fórum Social Mundial 2005, em Porto Alegre (RS), ocorreram em auditórios bioconstruídos: estruturas de eucaliptos, paredes de palha (de arroz, trigo e cevada) e cobertura verde, combinando conhecimentos tradicionais – a chamada arquitetura vernacular – com novos materiais. Oito das 205 salas tiveram estas características: cinco com capacidade para 100 lugares e outras três para 50 lugares.
Entre as vantagens deste modo construtivo estão o aproveitamento de materiais próprios de cada região; maior isolamento térmico e acústico; economia de energia tanto na geração da moradia como na sua ocupação, e o emprego de sistemas alternativos de refrigeração e calefação.
“Entende-se que com a utilização, de modo sustentável, de materiais naturais encontrados na região onde esta inserida a obra, se propicia uma construção integrada ao entorno, mimética, e mais humana”, diz a arquiteta Sheila Trope, que incorpora rotineiramente os conceitos da Bioconstrução a seus projetos. “Vale lembrar que o homem vem se distanciando da natureza, vivendo nas cidades, e que existe hoje um movimento de busca e resgate ao seu habitat natural”.
O designer Walter Oliveira é outro entusiasta da Bioconstrução. “Ninguém ensinou o joão-de-barro a construir. A gente acabou perdendo o contato com o nosso abrigo”, diz ele. “É uma tecnologia quase que intuitiva, que tratamos como uma solução para continuarmos evoluindo na construção sem comprometer a disponibilidade de recursos em um futuro próximo”, define.
Walter é responsável pela área de Projetos Especiais da EcoCasa, uma empresa de tecnologias ambientais que encontrou na Bioconstrução um alvo de interesse e estudos constantes. Em uma salutar parceria com o poder público, vai realizar em Limeira (SP), onde está sediada, duas palestras gratuitas e oito módulos práticos enfocando aspectos da Bioconstrução (confira a programação completa). A Prefeitura da cidade é parceira do projeto, junto com as Secretarias de Agricultura, Abastecimento, Meio-Ambiente e Recursos Hídricos. O evento conta ainda com apoio da Secretaria de Obras e Transporte.
A princípio, a Prefeitura quer capacitar técnicos para que possam aplicar estas técnicas em atividades de educação ambiental e em equipamentos turísticos, a exemplo do horto florestal e das fazendas históricas.
De acordo com a Unesco, um terço das construções do planeta são feitas com terra. Entre os materiais que podem ser empregados na Bioconstrução estão adobe (terra crua), mistura de terra com esterco e palha; bambu, entre outros. Walter Oliveira diz que 80% das casas, nos países mais populosos – China, Índia etc – seguem este modelo. “No Oriente Médio, se a casa não for de terra, se cria um problema sério com a variação térmica. Não agüentariam o calor do dia e o frio da noite”, diz o designer, lembrando que eficiência térmica gera eficiência energética. “Você não vai gastar com ar condicionado e com calefação”.
Para ele, um dos maiores desafios à Bioconstrução é o preconceito de que as tecnologias ainda são vítimas. “As classes mais humildes ainda estão tentando azulejar até a fachada da casa”, ilustra. “Tendem a fugir das técnicas tradicionais porque, na visão deles, elas são o equivalente a precariedade”. A estratégia para enfrentar esse entendimento é fazer o caminho contrário. “Trabalhamos com clientes de classes média e alta que servirão de exemplo para que seus vizinhos percebam as vantagens da Bioconstrução”, diz Walter, para quem, a partir desse processo, se conseguirá “atingir a massa”.