EXCLUSIVO: Produção de carvão vegetal é alvo de debates em Minas Gerais e na Bahia

Mônica Pinto / AmbienteBrasil

Carvão vegetal é uma substância de cor negra obtida pela carbonização da madeira ou lenha. É muito utilizado como combustível para aquecedores, lareiras, churrasqueiras e fogões a lenha.

Mas é o uso na indústria siderúrgica, a requerer grande aporte do produto, que mais preocupa os ambientalistas. Segundo a Associação Mineira de Defesa do Ambiente – Amda -, na região metropolitana de Belo Horizonte, o metro cúbico do carvão fabricado com madeira proveniente de derrubada de florestas nativas custa R$ 110, enquanto o de eucalipto custa R$ 120. No triângulo mineiro, a diferença é ainda maior: R$ 90 e R$ 115, respectivamente.

Esse seria, portanto, um dos principais incentivos ao desmatamento em Minas Gerais. Debater tal problema, a situação de ameaça dos remanescentes de mata nativa e analisar dados do Instituto Estadual de Florestas – IEF – sobre o assunto foram os objetivos da Audiência Pública, solicitada pela Amda e realizada ontem pela manhã no Auditório da Assembléia Legislativa.

A entidade avalia que a produção de ferro gusa , feita em muitos casos com carvão de origem nativa, continua sob o mesmo princípio de 500 anos atrás. “Os danos ambientais diversos – extinção de espécies vegetais e animais, degradação da água – são externalidades do processo produtivo”, diz a superintendente da Amda, Maria Dalce Ricas, para quem isso significa”privatizar lucros e socializar prejuízos.”

Conforme informações do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais – Sindifer -, os produtos mineiros de ferro gusa utilizam o carvão vegetal à base de eucalipto como principal matéria-prima. No território mineiro – ainda segundo a entidade -, existem mais de 1,7 milhão de hectares de áreas reflorestadas com eucaliptocultura.

Minas Gerais compreende hoje 60% de toda a produção nacional de ferro gusa, oscilando entre 4 e 5 milhões de toneladas por ano. É o estado, aliás, que abastece o mercado interno, com 3,1 milhões de toneladas/ano, faturando R$ 1,9 bilhão.

Maria Dalce destaca que o problema da exploração de carvão vegetal em matas nativas já extrapola as fronteiras de Minas Gerais. Em recente reunião em Brasília, o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Langone, falou da necessidade de se repensar o modelo de desenvolvimento no São Francisco, onde as carvoarias localizadas em vários pontos da bacia destroem a Caatinga e acabam com as nascentes no Cerrado.

A carvoagem também é constantemente associada a condições de trabalho degradantes. Só em 2004, a Campanha de Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra – CPT – recebeu 15 denúncias de trabalho escravo ou superexplorado em carvoarias do Maranhão, Tocantins, Pará e Minas Gerais. Foram fiscalizadas oito carvoarias e 323 escravos libertados – quase 20% do total dos trabalhadores tirados da escravidão no país neste período.

Alternativas

Foi aberto ontem e termina hoje, na cidade baiana de Riacho de Santana, o Seminário Sobre Carvoarias. No evento, organizado pela Comissão Pastoral da Terra, entre outras instituições, representantes de comunidades, organismos públicos e da sociedade civil estão debatendo e apontando ações alternativas à carvoagem.

O seminário pretende sensibilizar e mobilizar organizações sociais e a opinião pública para reagir ao avanço da produção de carvão na Bahia. Dessa forma se espera ampliar o diagnóstico – causas e conseqüências -; identificar mecanismos legais de combate, além de propor alternativas na geração de trabalho e convivência com o cerrado e o semi-árido.