Acontece hoje mais uma mobilização “em defesa da paisagem do Cabo Branco”, na Paraíba

Mônica Pinto / AmbienteBrasil

Conforme registrado por AmbienteBrasil na matéria EXCLUSIVO: Abraço ao Cabo Branco, em João Pessoa, marca manifestação contrária à construção de hotel, a insatisfação de ambientalistas quanto ao que consideram agressão a um patrimônio natural da Paraíba e do Brasil se expressa na forma de protestos organizados pelo Fórum em Defesa do Cabo Branco.

Hoje, sexta-feira, continuando a série de eventos contra a construção do Marina’s Flat na falésia, os manifestantes vão se reunir, a partir das 5h30 da manhã, em frente ao portão da obra, no final da avenida Cabo Branco.

Até as 8h30, eles pretendem sensibilizar os caminhantes e colher assinaturas no abaixo-assinado de repúdio ao empreendimento hoteleiro, distribuindo uma carta aberta à população.

Às 9h, parte do grupo programa se dirigir ao Hotel Tambaú, onde estará sendo realizado o 78º ENIC – Encontro da Construção Civil – para ler a Carta aos Construtores do Brasil, que defende “uma engenharia sustentável na cidade” (confira abaixo).

Ouvido por AmbienteBrasil, o advogado José Ricardo Porto, representando a Imperial Construções, proprietária do Marina’s Flat, disse que “o hotel está sendo construído dentro de todos os padrões técnicos e paisagísticos da legislação vigente”.

Ele mostrou-se surpreso com o descontentamento da comunidade ambientalista em relação à obra. “Não está sendo feita nenhuma agressão à natureza”, garantiu.

AOS ARQUITETOS, ENGENHEIROS E CONSTRUTORES DO BRASIL

No Brasil e no mundo, o setor de construção civil é conhecido como um dos grandes responsáveis pelos impactos ambientais, que têm gerado conflitos urbanos seriíssimos, com alterações climáticas e geográficas que interferem na qualidade de vida das populações. Contudo, conforme lembra a arquiteta paulista Ruth Verde Zein, na Arquitextos 064, “essa tradição colonial de devastação e desperdício” que atende a “uma metodologia de projeto meramente funcionalista”, pode ser revisada pelos arquitetos brasileiros, por exemplo, que já estão se preocupando com projetos que privilegiam bons espaços integrados ao tecido urbano, pois “o compromisso maior do arquiteto deverá ser a coerência com seu contexto”. O arquiteto espanhol Luiz Fernandez Galeano, no jornal El Pais, acrescenta que “o arquiteto estabelece um pacto fáustico com o desperdício e o excesso”, portanto, “a ‘agenda verde’ se apresenta como uma renovada ética civil”. E, ainda, o arquiteto americano James Wines, em palestra na Faculdade de Engenharia da UNICAMP, garantiu que “os arquitetos se apaixonaram pelo sonho industrial, determinados pelo interesse no dinheiro”, mas que a questão ambiental “é um dos tópicos fundamentais da arquitetura do século 21”.

Sendo assim, o que a sociedade brasileira e a paraibana, especialmente, que sedia o 78º Encontro Nacional da Indústria da Construção Civil –ENIC, esperam é que haja uma reflexão conjunta de arquitetos, engenheiros e construtores quanto a sua prática cotidiana, no sentido de se pensar na “construção responsável” que imprima à área arquitetônica uma reformulação de conceitos que possam ser conciliáveis ao reequilíbrio ecológico na relação homem – entorno artificial-natureza. Ações neste sentido já estão sendo desenvolvidas pelo SINDUSCON-SP, com alguns trabalhos voltados para a construção sustentável. Da mesma forma, empreendimentos ambientais têm sido realizados, como os da REM Construtora, de São Paulo, e seu projeto de arquitetura ecológica na Vila Conceição; ou como os da Construtora TAKAOKA, e seus loteamentos em Barueri, com a preservação da Mata Atlântica.

João Pessoa tem se destacado no cenário arquitetônico nacional e internacional e sido referência em encontros da área exatamente porque tem uma legislação de gabarito para as construções, que mantém a sua orla em harmonia com a natureza que a emoldura – o mar, a mata e a falésia. Ir contra uma luta de três décadas da população da cidade será um retrocesso, além do que trará problemas sociais e econômicos maiores do que aqueles que se espera ter como retorno turístico, por exemplo. Grandes prédios implicam gastos maiores de energia, de água e de novas estruturas de saneamento básico. O turismo que se deveria investir nesta cidade-verde é aquele na qual ela calca sua propaganda: ser a 2a. cidade mais verde do Planeta. É o seu diferencial. É o seu potencial. Para isso, deve-se preservar sua cobertura de Mata Atlântica e as falésias, construindo praças, observatórios e parques ecológicos para apreciação desta natureza exuberante.

Os arquitetos, engenheiros e construtores de João Pessoa deveriam mostrar-se sensíveis à beleza da sua cidade, sem cederem à cooptação do capital selvagem dos que só pensam no progresso perverso das invasões bárbaras que já ocorreram em Salvador, Fortaleza e Natal. Ainda está em tempo de pensarmos numa cidade que poderá tornar-se rica sem entregar-se à sua própria depredação natural, que são seus ovos de ouro. A construção do Marina’s Flat, embaixo da falésia do Cabo Branco, que causou o desmatamento de 130m de Mata Atlântica, é um ato de desprezo e descaso pela cidade e pela sua população tão ciosa do seu maior patrimônio natural.

João Pessoa, 18 de outubro de 2006.

Fórum Cabo Branco
Associação Paraibana dos Amigos da Natureza-APAN
ONG Acácia Pingo d’Ouro